Ambos modernos. Ambos do norte!
Um explora a poesia que há nos fatos não poéticos, ainda que um suicídio (fato densamente poético e filosófico) é um suicídio de um anônimo, ainda que apresentados nome, profissão e residência, um anônimo, pois é um João qualquer, com um sobrenome impropriamente derivado de adjetivo a substantivo próprio, um carregador qualquer de qualquer feira, em mais um barraco, em mais uma Babilônia, sem qualquer número. Ele chega, bebe, canta, dança, atira-se e morre-se; chegar é poético, beber, cantar, dançar, atirar-se, morrer-se são poéticos, e são notícias de jornais. Explora-se a poesia dos diários, dos cotidianos, ainda que trágico, anônimo, mesmo que nomeado. Sem lira, em terceira pessoa. A poesia entocada fora do eu-lírico, mas ainda poética.
Outro também explora a notícia, no limiar do limbo, onde é anti-ética é anti-estética. A poesia fora de si, anti-poética, onde o poema é subversivo, sujo. Pois da sujeira nasce e para subvertê-la. E como um martelo.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Manuel Bandeira)
Poema brasileiro
No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
(Ferreira Gullar)
Um comentário:
Oi Vinícius,
não sabia que vc tinha este pendor para a poesia. Legal mesmo.
Olha, quero aproveitar para pedir desculpas pelas brincadeiras que fiz contigo no último futebol. Acho que foram no mínimo inconvenientes.
Deus continue a te abençoar e guiar,
Fábio Aguiar
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