29/08/2007

Aestesis

A Escola de Frankfurt foi um famoso núcleo para estudos sociais que vigorou em meados do século passado e teve componentes ilustres como Adorno, Benjamim e Horkheimer. E tais componentes fizeram estudos muito proveitosos sobre arte e indústria cultural. E essa tal da indústria cultural é a responsável pelo esvaziamento de certos conceitos artísticos e filosóficos e pelo deturpamento de outros tantos.

Prova disso é o conceito de materialismo. Essa palavra hoje em dia é facilmente atachada às pessoas que dão mais valor a um Big-Mac com Coca-Cola e um tênis Nike do que do que aos problemas sociais. Em sumo, o alto exemplo do capitalista selvagem e egoísta. Nada mais falso. Prova disso é que Karl Marx, teorizador do Socialismo e do Comunismo, crítico ferrenho das engendragens homicidas e até, como ele mesmo disse, suicidas do Capitalismo e pensador extremamente atento às reivindicações sociais, era um materialista. Materialista a ponto de concordar com Feuerbach ao dizer que Hegel, ao imaginar sua teoria idealista, devia estar plantando bananeiras.

Outro conceito que tem sofrido demais nos últimos tempos e que é justamente um dos conceitos mais importantes de todos os tempos é o conceito que vem com a palavra estética.

Hoje se quer que a estética seja a preocupação com as aplicações de botox, o consumo de tênis lindos e caríssimos que o tal jogador estava vestindo no comercial do intervalo do Monday Night Football. Os que se preocupam com a estética são aqueles que farão plásticas cirúrgicas como as lipoaspirações depois de terem comido toneladas de Big-Mac´s, e depois pagarão caro, e de bom grado, para consumir seus dejetos reciclados como artigos de luxo, como nos ensinou Tyler Durden. Nada mais falso.

Estética tem origem na palavra grega "aistesis" que significa sentido, a grosso modo. E a estética cuida do que importa aos sentidos, do que os fere e os agrada. A teoria estética se ocupa dos materiais que provocam nossas percepções através dos nossos sentidos. Não há nada mais saudável. E Alberto Caeiro está de acordo.

Se hoje se tem uma visão muito deturpada do que seja a estética materialista, isso é menos culpa das objetos artísticos do que do marketing da indústria capitalista. E uma coisa nada tem a ver com a outra. E não sou eu quem está dizendo!

28/08/2007

bandeira gullar

esse poema do Gullar já foi citado aqui, e alinhado a um poema do Bandeira. Recito o mesmo poema do Gullar e o alinho, novamente, a um do Bandeira, mas o Bandeira que vai aqui é outro. Fácil de se entender o motivo.

ps: não serão citados Xuxa Meneguel e Renato Aragão no Criança Esperança.

Poema brasileiro

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade


O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

07/08/2007

é mesmo

sobre os conflitos entre favelados fardados e desfardados das duas últimas décadas cariocas, Nicolás Guillén, poeta cubano morrido há quase vinte anos.


No sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo,
si somos la misma cosa
yo,
tú.

Tú eres pobre, lo soy yo;
soy de abajo, lo eres tú;
¿de dónde has sacado tú,
soldado, que te odio yo?

Me duele que a veces tú
te olvides de quién soy yo;
caramba, si yo soy tú,
lo mismo que tú eres yo.

Pero no por eso yo
he de malquererte, tú;
si somos la misma cosa,
yo,
tú,
no sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo.

Ya nos veremos yo y tú,
juntos en la misma calle,
hombro con hombro, tú y yo,
sin odios ni yo ni tú,
pero sabiendo tú y yo,
a dónde vamos yo y tú Y¡
no sé por qué piensas tú,
soldado, que te odio yo!