29/06/2011

john e joão

para a pressa, Saramago vai tão mal quanto Coltrane.
para a perfeição, vão ambos muito próximos.

28/06/2011

Mujeres Fertiles

Vênus Paleolítica
Todo o destaque é dado ao tronco da mulher, sendo condiderado a parte mais importante do corpo feminino, mais especificamente seios e útero. Face e membros vão praticamente desprezados.


Vênus Pré-Hispânica

Face e membro vão descartados de fato. Somente a presença do(s) tronco(s) farto(s).

As culturas xamânicas do noroeste sulamericano (anteriores ao domínio espanhol) enxergavam o cosmos em três dimensões:

1 - sub-terrânea ou aquática, templo da escuridão;

2 - super-terrena ou aérea, templo da claridade;

3 - terrena, templo dos homens e dos jaguares (vide San Agustín) e das sombras (proximamente a Platåo?).

Tal figura, vista a partir das duas primeiras realidades (cima ou baixo), pode se assemelhar a uma coisa qualquer.

Porém, quando vista a partir de qualquer ponto de vista terreno (frente, costas, esquerda, direita), será sempre um útero e dois seios fartos. Uma natureza fértil.



Vênus Botera
Noroeste sulamericano atual. Colombia pós Colombo. Mulher readquire face e membros definidos.

Joelho esquerdo apontado, braço esquerdo inclinado sobre a nuca, face ligeiramente voltada à esquerda. Expressão que se encontra entre a calma e a excitação. Um sono tranquilo, um sonho criativo. Deitada de uma maneira que ainda valoriza o componente biológico de sua sensualidade, mas que já reconhece seu componente cultural.


Vênus Superreal

Novamente sem membros. Perde agora seu tronco. Ausência de úteros e quase de seios. Todo o foco na face.

Algum reconhecimeto à criatividade biológica, mas valorizaçåo sobrepujante da fertilidade cultural do feminino.

Este post é uma homenagem a esse blog.

23/06/2011

Tapeçaria

Carpete de Sierpinski

A Ciência do Renascimento, de Decartes, Pascal, Leibniz, Newton, afastava a filosofia que vinha desde a Antiguidade e perpassava o Medievo e ratificava o afastamento prévio de toda a Mitologia por trás da Antiguidade.

Foi época dos surgimentos da Geometria Analítica, Cálculo Infinitesimal, Diferencial e Integral, entre outras coisas.

Num período de 2 a 3 séculos, foram feitos avanços, respondidas perguntas e permitidos novos questionamentos, graças a essas novas abordagens epistemológicas. O que acarretou numa confiança prepotente de dentro em pouco, à época, se encontrar resolvidas todas as questões de saberes a respeito do universo. Era a época do determinismo.

Porém, a ciência contemporânea, distinta da moderna, esta de autores já citados, e aquela de Gibbs, Lorentz, Brown, Eintein, Poincaré, Heisenberg, e mais, é a ciência da contigência.

Nesse interím, na ponte entre as epistemologias antigas e as modernas, temos a fundamental e sobremaneira olvidada cultura árabe, que dentre outras coisas, nos legou a notação arábica dos algarismos de 0 ao 9 e o conceito do número zero.

E no fundamento desta cultura, o tapete é pilar básico, vide os persas e seus motivos geométricos, bem como as narrativas de Alladin. Pois o tapete, peça robusta, que leva os fios em fina sintonia e em iteradas interações através dos nós pode adquirir vida e inteligência.

Nas epistemologias contemporâneas a noção de rede é essencial. Entendidas, tais redes, como sistemas de informação onde entes (seus elementos) estão em constante comunicação, o que, por sua vez, permite o surgimento de padrões e ritmos, dos mais simples aos mais complexos. E essa é uma abordagem que tem sido aplicada desde a física com seus átomos e quarks, até a sociologia com os humanos e suas convenções, passando pela biologia e pela química com suas células e moléculas.

É interessante perceber que, diferindo entre si, mantém certos laços os diversos tipos de abordagem ao longo do eixo histórico e geográfico.

Retornando às epistemologias antigas e suas metodologias mitológicas, gostaríamos de fazer referência e prestar referências às narrativas de Penélope e Ulisses.

Texto e Tecido possuem a mesma origem etimológica, por isso, o tecer e destecer de Penélope pode ser compreendido com o fazer e desfazer discursos ao longo do curso. O fazimento dos discursos mitológicos e o seu desfazimento e a consequente confecção dos discursos filosóficos e o desmanche desses últimos discursos para o que os discursos mais recentes, os científicos, possam ser costurados e depois descosturados para o surgimento de outros discursos vindouros.

E ainda aproveitando os tecidos e textos, o encordoamento do arco de Ulisses representa a capacidade de pesquisa e a competência metodológica, pois, muito antes do Google, foram as lanças e flechas nossos principais instrumentos de pesquisa.

As epistemologias antigas, aproveitando os conceitos de redes, tapetes, carpetes, fios, laços, nós, textos, tecidos, enseja o casal mítico e representa toda a sanha humana a respeito da produção de pesquisas, de conhecimento do cosmo e de representação da realidade.

E essa chama vai sendo alimentada, nesses dias, por pesquisas em sistemas complexos e geometria fractal, por exemplo.

19/06/2011

The Strokes - You Only Live Once



o par eufórico da depressão que vai abaixo.
a mensagem é praticamente a mesma: 'cause I'm through.
embora este discurso seja mais get up
e aquele mais sit down.

you only live it once
so you may leave it all;
you only remember it once
so you might try it all.

The Strokes - I'll try anything once



ele diz, no título, que vai tentar cada coisa apenas uma vez
no último verso, se contradiz e pede uma vez mais
mas não sem antes dizer que você pode tentar todas as coisas mais de uma vez
desde que só se lembre uma (da última?).

ser feliz é fugir do tédio.
e para isso você pode ser extremente criativo
ou ter a memória absurdamente curta.

também diz que precisa te ver mais uma vez:
será que já se esqueceu da última vez que te viu
ou terá alguma surpresa aguardando você?

funcionam muito bem as contagens e enumerações.
as referências a quedas e fracassos.
e aos jogos e uniformes.

bem melancólico, o tédio criativo.
excelente mote para somewhere.
que fica à altura.

12/06/2011

Steven Strogatz on sync | Video on TED.com

Steven Strogatz on sync | Video on TED.com

Timoneiro


não sou eu quem me navega
quem me navega é o mar

Costumamos a imaginar que cada ente ou fenômeno possui um guia. Um timoneiro que lhe dirige e conduz. Deus no Universo. Mente no Homem. Capitão no Navio. Sempre haveria uma inteligência dentro da máquina, uma consciência dentro da estrutura. Um homúnculo, uma glândula pineal.

Foi essa a noção que Wiener empregou ao nominar a episteme que desenvolvera. Cibernética, do greco-latino, governador. Máquinas autonômicas, com autoridade para governar a si mesmas.

Um porém, porém, é que a própria inteligência, a consciência mesma, também são estruturas, máquinas que, por sua vez, também teriam a necessidade de um sujeito a lhes conduzir o leme numa regressão ad nauseum, ad eternum, ad infinitum.

Entretanto, com a morte de Deus (Nietzsche), com a morte do Homem (Foucault) e com a morte do Autor (Barthes), advém a morte do Criador, e, portanto, o fim do governo que se centraliza num único sujeito. Assim, o Governador também morre.

E acontece que, nesse mar de informação que navegamos nowadays, é cada vez mais impensável a presença de um Argos ou de um Noé, a construir e conduzir a barca e a acolher a todos sobre chão, sob teto e entre muros.

Não há mais o Timoneiro, soberano. Os limites são outros, e cada um carrega seu remo em seus braços. Mas é um belo bater inútil. É muito mais forte a Maré. Nem eu me navego a mim e a ele, nem ele se navega a si ou a nós. Pois, o mar, é o mar, que está a nos navegar. São as multidões, as massas, as ondas, as nuvens, as tribos, ao humor do tempo e das tempestades que nos vão conduzindo.

Veja um formigueiro, é cada formiga que o governa e, portanto, nenhuma delas. Veja um sistema neurólogico, todo neurônio o dirige e nenhum dos tais se lhes sobrepuja. São todos peças importantes, porém, de forma alguma insubstituíveis. Desta forma, o organismo vai muito mais apto a superar eventuais perdas de quaisquer indivíduos que sejam.

Os quarks interagem e formam os átomos, os átomos interagem e formam as moléculas, as moléculas interagem e, no caso das biomoléculas, formam as células, as células, em interação formam os tecidos, que, interagindo, nos formam. E nós com todas as nossas interações iteradas, que estruturas, que máquinas, que entes, que fenômenos temos e vamos formando para além de nós mesmos?

O Sistema é o que importa, a Rede é o que interessa. Super-organismos atuando pela ação constante, concorrente, colaborativa, coperante e concomitante de seus elementos.

São os cardumes, as manadas, as revoadas, as abelhas, os gafanhotos, os vaga-lumes. Os cidadãos, nas praças cibernéticas, nos estádios virtuais, nos templos informáticos, que tem permitido o surgimento dessa super-estrutura cujas competências ainda estão por ser contempladas.

Da união vem a força, do conjunto, a inteligência, do grupo emerge a consciência. Ao mar, então, que nos navega. E que navega o nosso barco muito antes que sequer o pense o timoneiro. Nos navegamos todos, uns aos outros, assim seja, pois assim tem sido. A nos comunicarmos, a nos influenciarmos todos. E o caminho, a direção, está muito além do horizonte do sujeito mais previdente.

Interpretemos Sêneca positivamente, e saibamos que todos os caminhos servem àquele que não se preocupa aonde vai, àquele a quem importa apenas que vá, que navegue, que viaje, que percorra, ele consigo e com os seus.

O homem biológico encontra seu limite. A evolução cultural se acelera. O novo homem semiótico será toda a humanidade conectada. O Super-Homem será a Consciência Coletiva.