25/12/2011

Infância

"Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé."


Segue acima o segundo poema do primeiro livro.

Nele, o autor narra sua Infância em Itabira, no seio da família.
A cena é bucólica, o tempo é vagaroso.

O irmão caçula vai deitado, sua mãe vai sentada como Penélope e seu pai, o mais veloz, vai a cavalo, enquanto ele se lê uma história infinita.

É o que nos revela a primeira estrofe.

Na segunda estrofe, o bom gostoso velho preto da senzala dos cafezais. Sob o zênite o sol a pino castigante.

Na estrofe seguinte, o inseto, figura recorrente, imagem dos pequenos aborrecimentos, das rusgas cotidianas. E um suspiro como que um buraco negro um poço sem fundo uma história sem fim.

Nas duas últimas estrofes, a fazenda maior que o mundo e o menino maior que o herói.

Aqui, na sua Infância na roça, as distâncias são enormes e o tempo é lentíssimo. Todos os movimentos são vagarosos como os braços da preguiça.

03/09/2011


"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."



Poema de Sete Faces - Alguma Poesia. ( O primeiro poema do primeiro livro)

Pernas pra que te quero
se bondes tenho?

Os homens correm atrás das mulheres, nada mais natural que isso.
E vão homens e mulheres inertes dentro do bonde, o quê mais cultural que isso?

As casas se movem como a Terra e espiam,
as mulheres, pretas brancas amarelas,
se movem como os bondes,
os homens se co-movem como o diabo.

Evidenciados os contrastes:
A tradição e A inovação.
O ir a pé e O viajar de bonde.

Está presente entre o poeta passado que,
bêbado e romântico,
se comove e se move ao mundo à lua a deus ao diabo a rima a conhaque
e de coração vasto indaga.

E o poeta futuro que se move a terra à casa
e não se comove a nada e por trás dos óculos
apenas olha e espia sem perguntas por trás do bigode.

Link imediato com o Satélite de Bandeira
e com o Olhar de Caeiro.

Satélite

"Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.

Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.

Ah! Lua deste fim de tarde
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si"

II - O Meu Olhar

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

27/08/2011

O Bonde do Drummond


vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore


Drummond é o poeta do movimento. Do encontro. Do ir e vir e mais ficar. Do dar as mãos e caminhar.

É o Poeta presente entre Passado e Futuro. O Movimento presente entre Árvore e Bonde.

A Dança. A Poesia. Entre Natureza e Cultura.

O bonde e outros meios são figuras constantes na temática do itabirano.

Pretendemos, a partir de agora, simplesmente citar, eventualmente criticar algumas dessas imagens que compõem a obra do artista.

Bon voyage.

31/07/2011

corpOiticica

é no toque a influência

O contato modifica e contamina.
Um templo, como um museu, onde se proibe o toque
é o ponto onde se quer evitar todo contágio e metamorfose.


Please, DO NOT TOUCH

26/07/2011

Tabuletas

Do barro ao silicone.
Um estudo sobre a evolução do homem e suas tecnologias de informaçāo.

29/06/2011

john e joão

para a pressa, Saramago vai tão mal quanto Coltrane.
para a perfeição, vão ambos muito próximos.

28/06/2011

Mujeres Fertiles

Vênus Paleolítica
Todo o destaque é dado ao tronco da mulher, sendo condiderado a parte mais importante do corpo feminino, mais especificamente seios e útero. Face e membros vão praticamente desprezados.


Vênus Pré-Hispânica

Face e membro vão descartados de fato. Somente a presença do(s) tronco(s) farto(s).

As culturas xamânicas do noroeste sulamericano (anteriores ao domínio espanhol) enxergavam o cosmos em três dimensões:

1 - sub-terrânea ou aquática, templo da escuridão;

2 - super-terrena ou aérea, templo da claridade;

3 - terrena, templo dos homens e dos jaguares (vide San Agustín) e das sombras (proximamente a Platåo?).

Tal figura, vista a partir das duas primeiras realidades (cima ou baixo), pode se assemelhar a uma coisa qualquer.

Porém, quando vista a partir de qualquer ponto de vista terreno (frente, costas, esquerda, direita), será sempre um útero e dois seios fartos. Uma natureza fértil.



Vênus Botera
Noroeste sulamericano atual. Colombia pós Colombo. Mulher readquire face e membros definidos.

Joelho esquerdo apontado, braço esquerdo inclinado sobre a nuca, face ligeiramente voltada à esquerda. Expressão que se encontra entre a calma e a excitação. Um sono tranquilo, um sonho criativo. Deitada de uma maneira que ainda valoriza o componente biológico de sua sensualidade, mas que já reconhece seu componente cultural.


Vênus Superreal

Novamente sem membros. Perde agora seu tronco. Ausência de úteros e quase de seios. Todo o foco na face.

Algum reconhecimeto à criatividade biológica, mas valorizaçåo sobrepujante da fertilidade cultural do feminino.

Este post é uma homenagem a esse blog.

23/06/2011

Tapeçaria

Carpete de Sierpinski

A Ciência do Renascimento, de Decartes, Pascal, Leibniz, Newton, afastava a filosofia que vinha desde a Antiguidade e perpassava o Medievo e ratificava o afastamento prévio de toda a Mitologia por trás da Antiguidade.

Foi época dos surgimentos da Geometria Analítica, Cálculo Infinitesimal, Diferencial e Integral, entre outras coisas.

Num período de 2 a 3 séculos, foram feitos avanços, respondidas perguntas e permitidos novos questionamentos, graças a essas novas abordagens epistemológicas. O que acarretou numa confiança prepotente de dentro em pouco, à época, se encontrar resolvidas todas as questões de saberes a respeito do universo. Era a época do determinismo.

Porém, a ciência contemporânea, distinta da moderna, esta de autores já citados, e aquela de Gibbs, Lorentz, Brown, Eintein, Poincaré, Heisenberg, e mais, é a ciência da contigência.

Nesse interím, na ponte entre as epistemologias antigas e as modernas, temos a fundamental e sobremaneira olvidada cultura árabe, que dentre outras coisas, nos legou a notação arábica dos algarismos de 0 ao 9 e o conceito do número zero.

E no fundamento desta cultura, o tapete é pilar básico, vide os persas e seus motivos geométricos, bem como as narrativas de Alladin. Pois o tapete, peça robusta, que leva os fios em fina sintonia e em iteradas interações através dos nós pode adquirir vida e inteligência.

Nas epistemologias contemporâneas a noção de rede é essencial. Entendidas, tais redes, como sistemas de informação onde entes (seus elementos) estão em constante comunicação, o que, por sua vez, permite o surgimento de padrões e ritmos, dos mais simples aos mais complexos. E essa é uma abordagem que tem sido aplicada desde a física com seus átomos e quarks, até a sociologia com os humanos e suas convenções, passando pela biologia e pela química com suas células e moléculas.

É interessante perceber que, diferindo entre si, mantém certos laços os diversos tipos de abordagem ao longo do eixo histórico e geográfico.

Retornando às epistemologias antigas e suas metodologias mitológicas, gostaríamos de fazer referência e prestar referências às narrativas de Penélope e Ulisses.

Texto e Tecido possuem a mesma origem etimológica, por isso, o tecer e destecer de Penélope pode ser compreendido com o fazer e desfazer discursos ao longo do curso. O fazimento dos discursos mitológicos e o seu desfazimento e a consequente confecção dos discursos filosóficos e o desmanche desses últimos discursos para o que os discursos mais recentes, os científicos, possam ser costurados e depois descosturados para o surgimento de outros discursos vindouros.

E ainda aproveitando os tecidos e textos, o encordoamento do arco de Ulisses representa a capacidade de pesquisa e a competência metodológica, pois, muito antes do Google, foram as lanças e flechas nossos principais instrumentos de pesquisa.

As epistemologias antigas, aproveitando os conceitos de redes, tapetes, carpetes, fios, laços, nós, textos, tecidos, enseja o casal mítico e representa toda a sanha humana a respeito da produção de pesquisas, de conhecimento do cosmo e de representação da realidade.

E essa chama vai sendo alimentada, nesses dias, por pesquisas em sistemas complexos e geometria fractal, por exemplo.

19/06/2011

The Strokes - You Only Live Once



o par eufórico da depressão que vai abaixo.
a mensagem é praticamente a mesma: 'cause I'm through.
embora este discurso seja mais get up
e aquele mais sit down.

you only live it once
so you may leave it all;
you only remember it once
so you might try it all.

The Strokes - I'll try anything once



ele diz, no título, que vai tentar cada coisa apenas uma vez
no último verso, se contradiz e pede uma vez mais
mas não sem antes dizer que você pode tentar todas as coisas mais de uma vez
desde que só se lembre uma (da última?).

ser feliz é fugir do tédio.
e para isso você pode ser extremente criativo
ou ter a memória absurdamente curta.

também diz que precisa te ver mais uma vez:
será que já se esqueceu da última vez que te viu
ou terá alguma surpresa aguardando você?

funcionam muito bem as contagens e enumerações.
as referências a quedas e fracassos.
e aos jogos e uniformes.

bem melancólico, o tédio criativo.
excelente mote para somewhere.
que fica à altura.

12/06/2011

Steven Strogatz on sync | Video on TED.com

Steven Strogatz on sync | Video on TED.com

Timoneiro


não sou eu quem me navega
quem me navega é o mar

Costumamos a imaginar que cada ente ou fenômeno possui um guia. Um timoneiro que lhe dirige e conduz. Deus no Universo. Mente no Homem. Capitão no Navio. Sempre haveria uma inteligência dentro da máquina, uma consciência dentro da estrutura. Um homúnculo, uma glândula pineal.

Foi essa a noção que Wiener empregou ao nominar a episteme que desenvolvera. Cibernética, do greco-latino, governador. Máquinas autonômicas, com autoridade para governar a si mesmas.

Um porém, porém, é que a própria inteligência, a consciência mesma, também são estruturas, máquinas que, por sua vez, também teriam a necessidade de um sujeito a lhes conduzir o leme numa regressão ad nauseum, ad eternum, ad infinitum.

Entretanto, com a morte de Deus (Nietzsche), com a morte do Homem (Foucault) e com a morte do Autor (Barthes), advém a morte do Criador, e, portanto, o fim do governo que se centraliza num único sujeito. Assim, o Governador também morre.

E acontece que, nesse mar de informação que navegamos nowadays, é cada vez mais impensável a presença de um Argos ou de um Noé, a construir e conduzir a barca e a acolher a todos sobre chão, sob teto e entre muros.

Não há mais o Timoneiro, soberano. Os limites são outros, e cada um carrega seu remo em seus braços. Mas é um belo bater inútil. É muito mais forte a Maré. Nem eu me navego a mim e a ele, nem ele se navega a si ou a nós. Pois, o mar, é o mar, que está a nos navegar. São as multidões, as massas, as ondas, as nuvens, as tribos, ao humor do tempo e das tempestades que nos vão conduzindo.

Veja um formigueiro, é cada formiga que o governa e, portanto, nenhuma delas. Veja um sistema neurólogico, todo neurônio o dirige e nenhum dos tais se lhes sobrepuja. São todos peças importantes, porém, de forma alguma insubstituíveis. Desta forma, o organismo vai muito mais apto a superar eventuais perdas de quaisquer indivíduos que sejam.

Os quarks interagem e formam os átomos, os átomos interagem e formam as moléculas, as moléculas interagem e, no caso das biomoléculas, formam as células, as células, em interação formam os tecidos, que, interagindo, nos formam. E nós com todas as nossas interações iteradas, que estruturas, que máquinas, que entes, que fenômenos temos e vamos formando para além de nós mesmos?

O Sistema é o que importa, a Rede é o que interessa. Super-organismos atuando pela ação constante, concorrente, colaborativa, coperante e concomitante de seus elementos.

São os cardumes, as manadas, as revoadas, as abelhas, os gafanhotos, os vaga-lumes. Os cidadãos, nas praças cibernéticas, nos estádios virtuais, nos templos informáticos, que tem permitido o surgimento dessa super-estrutura cujas competências ainda estão por ser contempladas.

Da união vem a força, do conjunto, a inteligência, do grupo emerge a consciência. Ao mar, então, que nos navega. E que navega o nosso barco muito antes que sequer o pense o timoneiro. Nos navegamos todos, uns aos outros, assim seja, pois assim tem sido. A nos comunicarmos, a nos influenciarmos todos. E o caminho, a direção, está muito além do horizonte do sujeito mais previdente.

Interpretemos Sêneca positivamente, e saibamos que todos os caminhos servem àquele que não se preocupa aonde vai, àquele a quem importa apenas que vá, que navegue, que viaje, que percorra, ele consigo e com os seus.

O homem biológico encontra seu limite. A evolução cultural se acelera. O novo homem semiótico será toda a humanidade conectada. O Super-Homem será a Consciência Coletiva.

29/05/2011

Hermenêutica e Exegese


Duas breves críticas:

"O de agora, falamos do que está a morte, é o rei Herodes, que sofre, além do mais e pior que se dirá, de uma horrível comichão que o põe às portas da loucura, como se as mandíbulas miudinhas e ferozes de cem mil formigas lhe estivessem roendo o corpo, infatigáveis." (pag. 85)

"O pior, o pior verdadeiramente, é a gangrena que se tem manifestado nestes últimos dias, e esse horror sem explicação nem nome de que se fala em segredo no palácio, a saber, os vermes que infestam os órgãos genitais da real pessoa e que, esses sim, a estão devorando em vida." (pag. 86)

"Herodes permaneceu de olhos abertos, procurando descobrir o sentido último da revelação, se o havia, a tal ponto absorto no pensamento que mal sentia as formigas que o roíam por baixo da pele e os vermes que se babavam sobre as suas últimas fibras íntimas e as apodreciam." (pag. 102)

"Não queres falar-nos do que te disse João, Ainda não é a hora, respondeu Jesus, Disse-te ao menos que és o Messias, Ainda não é a hora, repetiu Jesus, e os discípulos ficaram sem perceber se ele apenas repetia o que antes tinha dito, ou os estava informando de que a hora de vir o Messias ainda não chegara. Para está hipótese se inclinou Judas de Iscariotes quando, desanimados, se deixaram ficar para trás, enquanto Tomé, céptico por decidida e renitente inclinação do espírito, opinava que se tratava de uma mera repetição, ainda por cima impaciente, acrescentou." (pag. 421 e 422)

28/05/2011

Deborah Gordon digs ants | Video on TED.com

Deborah Gordon digs ants | Video on TED.com

Swarming

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio.
Provérbios 6-6.


Sendo neurônios análogos a formigas, são cérebros análogos a formigueiros?

É Psyché que define o homem: mente, alma, espírito, sopro e hálito da Vida, inspiração, como queira.
São minúsculos agentes bioquímicos que, trabalhando incessantemente em conjuntos, nos permitem o comportamento inteligente e a tomada de consciência.


Myth:
OS GRÃOS: A princesa foi colocada num quarto onde uma montanha de grãos de diversos tipos tinham sido misturados. Psiquê devia separá-los, conforme cada espécie, no espaço de uma noite. A jovem começou a trabalhar, mas mal fizera alguns montículos, e adormece extenuada. Durante seu sono, surgem milhares de formigas que, grão a grão, os separa do monte e os reúne consoante sua categoria. Ao acordar, Psiquê constata que a tarefa fora cumprida dentro do prazo.
Science:
In computer science and operations research, the ant colony optimization algorithm (ACO) is a probabilistic technique for solving computational problems which can be reduced to finding good paths through graphs.
This algorithm is a member of ant colony algorithms family, in swarm intelligence methods, and it constitutes some metaheuristic optimizations. Initially proposed by Marco Dorigo in 1992 in his PhD thesis,[1][2] the first algorithm was aiming to search for an optimal path in a graph, based on the behavior of ants seeking a path between their colony and a source of food. The original idea has since diversified to solve a wider class of numerical problems, and as a result, several problems have emerged, drawing on various aspects of the behavior of ants.

Sistema Semiótico

É legítimo pensar os símbolos como elementos e o contexto como ambiente?

Discursos

Mircea Eliade
Filosofia dos discursos mitológicos

Pierre-Levy
Filosofia dos discursos científicos
Todo hardware e software tem como fim um peopleware. Cada aparelho e cada aplicativo funcionam para uma pessoa, pelo menos, direta ou indiretamente, ou não funcionam de todo.

Portanto, na Era da Informação, por mais sobejas as questões técnicas, não são menos as questões éticas.

Assim, cada agente informacional deve ter alguns conceitos bem definidos em sua moral, e vamos a alguns:

São fundamentais os conceitos de publicidade e privacidade, bem como o de propriedade. Algumas informações devem ser obrigatoriamente publicadas, como por exemplo as movimentações bancárias de um réu acusado de fraudes financeiras, ou os balanços contábeis de uma empresa com capital aberto em bolsa.

Outras informações devem ser mantidas em sigilo, como aquelas que atentam ao pudor.

Fora isso, um cidadão deve ter o direito de publicar ou não as informações que quiser. Querendo mantê-las em sigilo, deve ser respeitado seu direito à privacidade, querendo publicá-las, deve ser respeitado seu direito à propriedade e à liberdade de expressão; não sofrendo censuras e recebendo as devidas recompensas.

As informações publicáveis, uma vez publicadas, devem seguir o princípio da integridade técnica, referente a mensagem consigo mesma, ou seja, deve estar bem formatada, e da integridade ética, que se trata da coerência entre mensagem e seu referente, aquela sendo fidedigna a este.

Sendo íntegra a mensagem, em seus dois sentidos, deve possuir autonomia de publicidade o agente emissor, caso queira revelá-la.

Quanto ao agente receptor, deve possuir autonomia de acesso, tanto ética, que é a oportunidade de receber a mensagem fisicamente, quanto técnica, que a capacidade de decodificá-la e interpretá-la semanticamente.

É possível adicionar que, no que se refere à propriedade e à privacidade, é fundamental que se refira à segurança da informação. A informação está segura quando se evita que seu proprietário sobre perdas indesejadas e não se permite que não-proprietários alcancem ganhos indevidos.

Nano

De 5 a 10 anos atrás, eu possuía a genuína ambição (no que genuíno e ambição possuem de pior) de ver e ler todos os filmes e livros que valessem pena e claquete.

Já há alguns anos que me contento muito em habitar meu microcosmo (vulgarmente: viver no meu mundinho) de meia dúzia, se tanto, de autores prediletos.

25/05/2011

Caramujo

templos em que tempos
quê os governa?

defeitos do cor
po da casa
quê os repara?

tapetes carpetes
sopros no peito
quê os aspira?

persianas talheres
calvícies precoces
quê que nos dera?

delírios na sala
por dentro e por fora
quê os portara?

anseios de catre
de fronha e gaveta
quê os herdara?

sonhos de brilhos
de filhos de louça
hipotecara.

20/05/2011

Closer

Hello, Stranger.


O Inferno são os outros, nisso não há novidades, pois as próprias origens das palavras Satanás e Diabo vem de adversário.

Tememos o estrangeiro. O que está fora de nosso campo de visão, de nossa lucidez, tememo-nos a nós mesmos. Auto-exílio. Essa é a nossa condição.

Mas mais que combater as indumentárias que nestas noites o preconceito assume, indagaguemos em que peles se revestirá nas manhãs vindouras.

Eros vs Tânatos

O ser passa a morrer quando passa a copular.

Jonas


Muito se fala de Joseph Campbell e sua manjada jogada de marketing de dizer que Stars Wars é o supra-sumo das mitologias.

Mitólogo, filósofo e historiador das religiões mesmo é Mircea Eliade, o estudioso, erudito, intelectual, pensador e pesquisador romeno.

Pode ser que seja lenda, mas a wikipedia diz que o cara era proficiente numa boa meia-dúzia de línguas e dormia só quatro horas por dia pra poder ler nas outras vinte.

Vamos a ele, enfim:

"Eis um mito australiano: um gigante antropomorfo, Lumaluma, que era ao mesmo tempo uma baleia, chega à costa e , dirigindo-se para o oeste, devora todos os homens que encontra em seu caminho. Os sobreviventes se perguntam por que estarão diminuindo em número. Começam a espreitar e descobrem a baleia sobre a praia, com o ventre cheio. Tendo sido dado o alarma, eles se reúnem e, na manhã seguinte, atacam a baleia com lanças. Abrem-lhe o ventre e dele retiram os esqueletos. Diz-lhes a baleia: "Não me mateis e, antes de minha morte, vos mostrareis todos os rituais iniciatórios que conheço". A baleia efetua o ritual ma'raiin, mostrando aos homens como se deve dançar e todo o resto. "Nós fazemos isso - diz ela - e vós fazeis isto: tudo isso eu vos dou e vos mostro tudo isso". Depois de ensinar-lhes o ritual ma'raiin, a baleia revelou-lhes outros. Finalmente, retirou-se para o mar e disse: "Não me chameis mais Lumaluma. Desta vez mudo meu nome. Chamai-me nauwulnauwul pois agora vivo na água salgada.

O gigante antropomorfo-baleia engolia os homens para iniciá-los. Os homens não sabiam e a mataram, mas antes de "morrer" (isto é, antes de transformar-se definitivamente em baleia), Lumaluma revelou-lhes os rituais iniciatórios. Ora, esses rituais simbolizam mais ou menos explicitamente uma morte seguida de uma ressurreição.

15/05/2011

Panóptico

Lendo Vigiar e Punir de Michel Foucault, não deixo de associar suas sociedades de controle e disciplina com o manicômio saramaguiano em Cegueira.

E vendo o pensador francês a descrever as formas de tortura, punição, sofrimento e suplício da nossa era, não deixo de associar ao elenco de torturas, punições, sofrimentos e suplícios do Evangelho do pensador lusitano.

Outra obras que possivelmente venham a se relacionar com a questão da vigília e condenação:

1984
A Letra Escarlate
Crime e Castigo
O Processo

cada uma a seu modo.

Axiologia

O Homem Semiótico preenche sua existência com valores éticos, estéticos e epistemológicos, os quais nem sempre vão tão bem separados uns dos outros.

O Homem Automático, so far, só tem sido capaz de juízos epistemológicos, mas já há quem vislumbre máquinas morais para um futuro não tão remoto.

14/05/2011

autopoiese

O homem constroi-se seus deuses. E são linguagens suas ferramentas.

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
para que qualquer padrão surja
para que cada padrão desapareça
mera questão de tempo
mera questão de tempo

Sexta-feira, 13.

Como fomos e temos sido devorados
Strange

13/05/2011

TransInstrumento

Gosto de pensar as humanidades em quatro eixos:
- arquivista (arquivologia, biblioteconomia, museologia);
- evolutivo (história, arqueologia);
- ontológico (sociologia, antropologia);
- narrativo (mitologia, tragédia, literatura).

Penso em reduzir o eixo evolutivo à intertemporalidade do eixo ontológico. E imagino o eixo ontológico tendo como base o eixo arquivista e o eixo narrativo como ferramenta.

Porém, a medida que nossos arquivos vão-se tornando cada vez mais digitalizados e automatizados, nossas ferramentas vão-se tornando cada vez mais algorítmicas.

Se o homem semiótico se define pela narrativa, o homem automático vai-se definindo pela matemática.

E na busca pelo homem a poesia vai dando lugar à probabilidade, o cinema vai cedendo espaço à computação.

Desquadro


Por ser tão fluida a língua, se faz tarefa muito árdua sua descrição, e sua normatização impossível.

Pois, se a primeira lhe vai sempre a um passo atrás. A segunda lhe vai sempre muito mais depois.

E tais se extendem a quais códigos se queira.

Enquanto nas bocas há muito já vai o brasileiro, em gramáticas ainda se quer fazer vir o latim, pois os defuntos estão muito mais sujeitos às fotografias.

03/05/2011

Iñárritu x Arriaga

Depois de ver o rumo de seus trabalhos depois do divórcio, sou obrigado a dar toda a razão ao diretor e tirá-la toda do roteirista, por mais respeito que possa eu ter aos roteiristas, mas nunca respeitei tanto um diretor como esse.

09/04/2011

21 Grams

Um novo coração



Esse filme não fala sobre perder aquele peso ao morrer, que não conseguiste, em vida, perder em dieta alguma.

Esse filme fala sobre ganhar um novo coração. Literalmente ou metaforicamente.

Fala sobre queda e redenção na vida de um homem. Sobre a alternância cíclica entre cair e levantar.

E fala disso numa linha mais natural, biológica e científica, e numa outra linha mais figurativa, semiótica, religiosa.

Dois homens que possuíam corações sujos, encontram seus corações limpos e os tem sujos novamente. Resta a saber o esforço e a possibilidade de vê-los limpos novamente.

Homens

É vário o humano

Penso que a ciência possui três superabordagens do homem:

O homem biológico
que me parece ser sempre campo exclusivo seu;

O homem semiótico
que é campo de intersecção com as sociais e humanidades em si, como
filosofia, arte e religião;

O homem automático
que é campo mais recente e conta com alto grau de interdisciplinaridade.

É fato que não há o homem tão-somente biológico, pois o ser humano passa a humano ser a partir do quê começa a se deslaçar das restrições naturais através de inovações culturais.

Por isso o estudo do homem é primordialmente o estudo de suas culturas. É antropológico.

Mas o rincão bioquímico da espécie não pode jamais ser posto de lado, pois toda cultura emerge de uma base biológica (neurológica, mais especificamente).

Daí porque importar tanto a tantas culturas remotas a questão de o homem estar a meio passo entre o natural(biológico) e o sobrenatural(semiótico).

E no último meio século, talvez um pouco mais, o próprio homem tem sido ainda mais deus e vem projetando uma nova espécie de homem, não mais no barro, mas no silício: O homem automático, robótico, cibernético.

Mas o homem, desde que homem é, se recusa a crer que toda a sua significância se reduza há uma meia dúzia de automatismos. Sejam eles mais ou menos bioquímicos.

Resta saber se o novo homem a surgir será ainda mais criativo.

Pois a criatividade e o tédio são a mesma face dupla.

And the machines still do not get bored.

27/03/2011

Debates

São um pouco famosos e bastante longínquos os debates sobre a real exitência de Sócrates e Jesus Cristo, uma vez que não deixaram escritos e contam apenas com depoimentos de discípulos.

Assim como o debate sobre o caso de Homero ser o grande criador ou o mero compilador da mitologia grega.

Quanto ao primeiro assunto: pouco me importa se Jesus e Sócrates de fato existiram, o que me importa é que ambos, de fato, existem.

Quanto a Homero, creio que não foi mero, mas grandioso compilador dos contos e mitos helênicos. E compilando-os, criando-os foi, fazendo parte também do gênio coletivo.

Assim como os Irmãos Grimm, e seu excelente trabalho de criação, até onde permite a compilação, das lendas e fábulas do medievo europeu.

Espelhos


toda história é autobiográfica. no sentido que toda a narrativa é sobre o narrador, seja seu gênio individual ou coletivo.

é bom que tenham isso em mente os que frequentam os contos, sejam em livros, púlpitos ou kinoplexes.

é sobre o homem que falam as narrativas divinas.

26/03/2011

Lixo

o que é isso,
quem gosta disso,
Gramacho?

Estamira
Extraordinário

The Squid and The Whale


New Yorkinos

Lily Braun


Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom

Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz

E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou

Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilinguindo toda
Ao som do blues

Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris

E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê

Como amar esposa
Disse ele que agora
Só me amava como esposa
Não como star
Me amassou as rosas
Me queimou as fotos
Me beijou no altar

Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz


Há mais de década comecei a descobrir o Chico, na primeira metade, foram diversas canções, livros, filmes, poemas, entrevistas, depoimentos, já na segunda, ando bem menos assíduo.

Entretanto, uma música vinha tocando com certa frequência no rádio do meu carro, já há alguns meses, e, na semana que passou, descubro que é autoria sua com Edu Lobo.

Muito apetitosas rimas em português, francês e inglês, deliciosas figuras de linguagem e versos como faces rubras e febris. As always.

Porém, o que mais me chama atenção nesta é a chave de ouro, o verso que fecha, não no sentido parnasiano. Num sentido mais moderno, buarquiano.

Nunca mais feliz

Pois dependendo da entonação e da interpretação esse verso pode assumir significados diametralmente opostos, antônimos.

Uma conotação extremamente pessimista: Nunca mais serei feliz como fui.
E outra extremamente otimista: Nunca fui tão feliz como sou.

O gênio do alter-ego feminino e dos caracteres suburbanos preenche uma frase com todas as ambiguidades da vida a dois.

Como amar esposa?

Green


The Color of Money

17/03/2011

Arbor


Sendo você um humano, um macaco, um cachorro saudável que queira se reproduzir, deve possuir seus membros e sua bolsa escrotal, e pode andar pelas ruas, calçadas, estepes e pradarias até encontrar uma fêmea fértil e cotejá-la e cortejá-la.

Sendo você uma árvore, a solução é o design de produtos absurdamente sedutores (flores/frutos) que compensem sua mobilidade extremante reduzida, atraindo insetos, pássaros, humanos, macacos e cachorros como agentes disseminadores de sua mensagem (sementes).

E sendo suas raízes o que de mais arcaico, profundo, antigo, memorial, arqueológico e paleontológico você possui, para protegê-las, resguardá-las e mantê-las aquecidas a cada inverno, você deve, a cada outono, deitar sobre elas um providencial lençol de folhas secas e amarelecidas.

Martirizando o que há de mais novo e efêmero em detrimento do que há, como dissemos, de mais arcaico, profundo, antigo, memorial, arqueológico e paleontológico que você possui.

E, além disso, você ainda pode fazer fontossíntese, produzindo clorofila, destilando ácido hidroxílico e eliminando dióxido de carbono.

E se algum árcade neoclássico iluminista taxá-lo e tachá-lo de ser irracional, não o considere nem o desconsidere mais do que a um pedaço de pedra de granito.

História e Geografia


quantos modos de te montares mapas,
quantas maneiras de te dizeres história.

quantos pisos e quanto pisá-los.

Semântica

wittinho:

"os limites de minha linguagem são os limites de meu mundo"

o meu universo é o meu vocabulário

15/02/2011

Mexicanas

FALAM POR ELES:
Amores Perros
21 Grams
Biutiful
Y tu Mamá También
Children of Men
El Laberinto del Fauno
The Orphanage

Biutiful

o melhor dos melhores,
já há muito dito aqui.

ps: o rosto de Penélope fosse e outro seria o nome.

bardem

Está no melhor de Iñárritu
Está no melhor dos Cohen
Está num excelente de Almodóvar
Está num interessante de Woody Allen
Esta em duas inteligentíssimas metamorfoses de caracteres
em Amor nos Tempos de Cólera e As Sombras de Goya
Está, ainda, nos excelentíssimos Mar Adentro e Antes do Anoitecer
Lhe falta apenas o trabalho com Meirelles

Mamônetário Sacroprofano

toda moeda é um oxímoro:
o melhor profano - o mais sagrado
deus é uma nota de cem

Bush

fosse a forca
à mão do carrasco
menos desgosto haveria.

05/02/2011

Necrologia

THAT´S WHAT´S BIUTIFUL:


sem querer, iremos.

?
que estética da morte perante a vida
se tudo que é vida (a)a morte evita.


Verão

Este fevereiro azul
como a chama da paixão
nascido com a morte certa
com prevista duração

deflagra suas manhãs
sobre as montanhas e o mar
com o desatino de tudo
que está para se acabar.

A carne de fevereiro
tem o sabor suicida
de coisa que está vivendo
vivendo mas já perdida.

Mas como tudo que vive
não desiste de viver,
fevereiro não desiste:

VAI MORRER, NÃO QUER MORRER.

E a luta de resistência
se trava em todo lugar:
por cima dos edifícios
por sobre as águas do mar.

O vento que empurra a tarde
arrasta a fera ferida,
rasga-lhe o corpo de nuvens,
dessangra-a sobre a Avenida

Vieira Souto e o Arpoador
numa ampla hemorragia.
Suja de sangue as montanhas,
tinge as águas da baía.

E nesse esquartejamento
a que outros chamam verão,
fevereiro ainda em agonia
resiste mordendo o chão.

Sim, fevereiro resiste
como uma fera ferida.
E essa esperança doida
que é o próprio nome da vida.


VAI MORRER, NÃO QUER MORRER.
Se apega a tudo que existe:
na areia, no mar, na relva,
no meu coração - resiste.


F. Gullar

NO, NO ME VOY A MORIR, NO.

Victor Hugo


"quem abre uma escola, fecha uma prisão."

que distância entre Brizola e Capitão Nascimento?
quem, há duas décadas, condenou os CIEP, hoje em dia, louva as UPP.

30/01/2011

29/01/2011