18/08/2009

Influências

Num livro que Osmar me emprestou, Joel Rufino dos Santos enumera Einstein, Freud e Marx como os pensadores mais influentes do século XX.

Interessante notar que todos possuem ascedência judaica.

Mas mais interessante é perceber que um de meus pensadores prediletos, o etnólogo francês, Claude Levi-Strauss, teve sua teoria antropológica decisivamente influenciada por Marx e Freud.

De Freud ele herdou a noção de inconsciente, e de Marx herdou o conceito de infra-estrutura social. Substituindo a infra-estratura econômica de Marx, por uma infra-estratura inconsciente, cravada nos mitos, costumes, etiquetas, parentescos. De maneira mais profunda do que simplesmente nas relações de trabalho, produção, troca e consumo.

Mais tarde Levi-Strauss nega, condena e critica muitos preceitos das teorias marxista e freudiana. Num exemplo de parricídio muito comum na história da ciência moderna.

Porém, creio que a maior influência sobre Levi-Strauss veio do estruturalismo de Ferdinand Saussure, por razões óbvias. E aí está um dos motivos pela recusa à Marx, visto que a teoria marxista consiste numa espécie de glorificação da história, herdada de Hegel, ao passo que o estruturalismo sausurreano é sincrônico, isto é, crê num diminuto poder da história, sobretudo nas sociedades primitivas, que a substituem pelas narrativas mitológicas. E dizendo os mitos muito pouco sobre a formação do universo, versam demais sobre a formação daquela população específica.

Voltando a dar maior atenção à tríade citada por Rufino, podemos dizer que, hoje em dia, apenas Einstein sobrevive, com sua teoria da relatividade. Embora um pouco chamuscado por alguns paradigmas da teoria quântica. Que ele desacreditou ao dizer que Deus não joga dados.

Já Marx não é quase mais estudado nas escolas de economia. Como já ouvi dizer que o mesmo ocorre com Freud nas faculdades de psicologia. E uma das maiores críticas que ambos sofrem é a falta de rigidez de sua teorias. A falta de empirismo, por assim dizer. Miguel Nicolelis, paulista, palmeirense, e um dos maiores neurocientistas do mundo, ao ser perguntado sobre a teoria freudiana, critíca a falta de dados mensuráveis. Mesma crítica que sofre Marx. E que leva Karl Popper, epistemologista austríaco, a se quer considerar a psicanálise e a teoria marxista como ciência.

Podemos dizer que, em linhas gerais, Einsten foi um pensador da 'physis', Freud foi um pensador da 'psiqué' e Marx foi um pensador do 'ethos'.

E apenas o primeiro ainda permanece com sua reputação relativamente imaculada. E creio que isso se dá pelo fato de que por mais complexos que sejam o comportamento da natureza, me parecem sempre muito mais simples do que os comportamentos da humanidade, embora essa se origine daquela e faça dela parte indispensável a si.

15/08/2009

Albert Camus

"Após cinco minutos de suspensão, durante os quais o meu advogado me disse que tudo corria bem, foi ouvido o Celeste, que era citado pela defesa. A defesa era eu. Celeste deitava, de tempos a tempos, olhares na minha direção e rodava o panamá nas mãos. Trazia o terno novo que punha aos domingos, quando ia comigo às corridas de cavalos. Mas julgo que não conseguira por o colarinho, pois apenas um botão de metal lhe conservava a camisa fechada. Perguntaram-lhe se eu era seu cliente e ele respondeu: - Sim, mas era também meu amigo - ; o que pensava de mim, e ele respondeu que eu era um homem; o que queria dizer com isso, e ele declarou que toda a gente sabia o que isso queria dizer; se notara que eu era taciturno, e ele reconheceu apenas que eu não falava por falar. O advogado de acusação perguntou-lhe se eu pagava regurlamente as minhas despesas. Celeste riu-se e declarou:- Isso era entre mim e ele. - Perguntaram-lhe ainda o que pensava do meu crime. Pôs então as duas mãos na barra e via-se que preparara qualquer coisa. Disse: - Para mim, foi uma desgraça. Toda a gente sabe o que é uma desgraça. Pois bem, na minha opinião, foi uma desgraça..."

(em O Estrangeiro)

Gaston Bachelard

"Tem-se repetido com frequência, a partir de William James, que todo homem culto segue fatalmente uma metafísica. Parece-nos mais exato dizer que todo homem, no seu esforço de cultura científica, apoia-se não exatamente numa, e sim em duas metafísicas e que essas metafísicas naturais e convincentes, implícitas e tenazes, são contraditórias. Dando-lhes apressadamente um nome provisório, designemos essas duas atitudes filosóficas fundamentais, tranquilamente associadas no espírito cientíifico moderno, pelas etiquetas clássicas de racionalismo e realismo..."

(em O Novo Espírito Científico)

Merleau-Ponty

"..., a metafísica, reduzida pelo kantismo ao sistema de princípios empregados pela razão na constituição da ciência ou do universo moral, radicalmente contestada, nessa função diretriz, pelo positivismo, no entanto, não cessou de levar uma espécie de vida clandestina na literatura e na poesia, onde hoje os críticos a reencontram..."

(em O Metafísico no Homem)