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27/01/2013

O que é o virtual?

La rueda, en cambio, evidentemente no es una prolongación de la pierna pero sí la virtualización del desplazamiento.

 Pierre-Levy

25/12/2011

Infância

"Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé."


Segue acima o segundo poema do primeiro livro.

Nele, o autor narra sua Infância em Itabira, no seio da família.
A cena é bucólica, o tempo é vagaroso.

O irmão caçula vai deitado, sua mãe vai sentada como Penélope e seu pai, o mais veloz, vai a cavalo, enquanto ele se lê uma história infinita.

É o que nos revela a primeira estrofe.

Na segunda estrofe, o bom gostoso velho preto da senzala dos cafezais. Sob o zênite o sol a pino castigante.

Na estrofe seguinte, o inseto, figura recorrente, imagem dos pequenos aborrecimentos, das rusgas cotidianas. E um suspiro como que um buraco negro um poço sem fundo uma história sem fim.

Nas duas últimas estrofes, a fazenda maior que o mundo e o menino maior que o herói.

Aqui, na sua Infância na roça, as distâncias são enormes e o tempo é lentíssimo. Todos os movimentos são vagarosos como os braços da preguiça.

03/09/2011


"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."



Poema de Sete Faces - Alguma Poesia. ( O primeiro poema do primeiro livro)

Pernas pra que te quero
se bondes tenho?

Os homens correm atrás das mulheres, nada mais natural que isso.
E vão homens e mulheres inertes dentro do bonde, o quê mais cultural que isso?

As casas se movem como a Terra e espiam,
as mulheres, pretas brancas amarelas,
se movem como os bondes,
os homens se co-movem como o diabo.

Evidenciados os contrastes:
A tradição e A inovação.
O ir a pé e O viajar de bonde.

Está presente entre o poeta passado que,
bêbado e romântico,
se comove e se move ao mundo à lua a deus ao diabo a rima a conhaque
e de coração vasto indaga.

E o poeta futuro que se move a terra à casa
e não se comove a nada e por trás dos óculos
apenas olha e espia sem perguntas por trás do bigode.

Link imediato com o Satélite de Bandeira
e com o Olhar de Caeiro.

Satélite

"Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.

Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.

Ah! Lua deste fim de tarde
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si"

II - O Meu Olhar

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

27/08/2011

O Bonde do Drummond


vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore


Drummond é o poeta do movimento. Do encontro. Do ir e vir e mais ficar. Do dar as mãos e caminhar.

É o Poeta presente entre Passado e Futuro. O Movimento presente entre Árvore e Bonde.

A Dança. A Poesia. Entre Natureza e Cultura.

O bonde e outros meios são figuras constantes na temática do itabirano.

Pretendemos, a partir de agora, simplesmente citar, eventualmente criticar algumas dessas imagens que compõem a obra do artista.

Bon voyage.