30/09/2007

Cuba

El Reloj (Luis Palés Matos)

Con una incontrastable isocronía
canta el reloj las horas que transcurren,
y cual gnomos, por su armazonería,
como suspiros, rápidas, se escurren.

Quizá el tedio lo mata, y a porfía
las dos agujas del reloj, se aburren,
de estar marca que marca todo el día,
arcano idioma que ellas no discurren.

Mirado desde lejos, tiene aspecto
extraño y mitológico, de insecto
que ye correr la vida, indiferente;

y el péndulo, una lengua centelleante,
hiperbólicamente jadeante
que se mofa del tiempo eternamente.

Viola

"...
no colo da bem-vinda companheira
no corpo do bendito violão
eu faço samba e amor a noite inteira
não tenho a quem prestar satisfação..."
(Samba e Amor - Chico Buarque)

"...
ah, meu samba,
tudo se transformou
nem as cordas
do meu pinho
podem mais amenizar a dor
(...)
violão, até um dia
quando houver mais alegria
eu procuro por você
cansei de derramar
inultimente em tuas cordas
as desilusões desse meu viver..."
(Tudo Se Transformou - Paulinho da Viola)

"
Ah! essas cordas de aço
este minúsculo braço
do violão que os dedos meu acariciam

Ah! esse bojo perfeito
que trago junto ao meu peito
só você violão compreende porque
perdi toda alegria

E no entanto meu pinho
podes crer, eu adivinho
aquela mulher
até hoje está nos esperando

Solte seu som da madeira
eu, você e a companheira
na madrugada, iremos pra casa
cantando."
(Cordas de Aço - Cartola)

"
Tendida en la madrugada,
la firme guitarra espera:
Voz de profunda madera
Desesperada.

Su clamorosa cintura,
en la que el pueblo suspira,
preñada de son, estira
la carne dura.

Arde la guitarra sola,
mientras la luna se acaba;
arde libre de su esclava
bata de cola.

Dejó al borracho en su coche,
dejó el cabaret sombío,
donde se muere de frío,
noche tras noche,
y alzó la cabeza fina,
universal y cubana,
sin opio, ni mariguana,
ni cocaína.

¡Venga la guitarra vieja,
nueva otra vez al castigo
con que la espera el amigo,
que no la deja!

Alta siempre, no caída,
traiga su risa y su llanto,
clave las uñas de amianto
sobre la vida.

Cógela tú, guitarrero,
límpiale de alcol la boca,
y en esa guitarra, toca
tu son entero.

El son del querer maduro,
tu son entero;
el del abierto futuro,
tu son entero;
el del pie por sobre el muro,
tu son entero...

Cógela tú, guitarrero,
límpiale de alcol la boca,
y en esa guitarra, toca
tu son entero. "
(Guitarra - Nicolás Guillén)

28/09/2007

Maestria

do mestre,
João Cabral de Melo Neto

O Relógio

1.
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mas perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quebradiço da forma

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade

que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.

2.
O que eles cantam, se pássaros,
é diferente de todos:
cantam numa linha baixa,
com voz de pássaro rouco;

desconhecem variantes
e o estilo numeroso
dos pássaros que sabemos,
estejam presos ou soltos;

têm sempre o mesmo compasso
horizontal e monótono,
e nunca, em nenhum momento,
variam de repertório:

dir-se-ia que não importa
a nenhum ser escutado.
Assim, que não são artistas
nem artesãos, mas operários

para quem tudo o que cantam
é simplesmente trabalho,
trabalho rotina, em série,
impessoal não assinado,

de operário que executa
seu martelo regular
proibido (ou sem querer)
do mínimo variar.

3.
A mão daquele martelo
nunca muda de compasso.
Mas tão igual sem fadiga,
mal deve ser de operário;

ela é por demais precisa
para não ser mão de máquina,
e máquina independente
de operação operária.

De máquina, mas movida
por uma força qualquer
que a move passando nela,
regular, sem decrescer:

quem sabe se algum monjolo
ou antiga roda de água
que vai rodando, passiva,
graças a um fluido que passa;

que fluido é ninguém vê;
da água não mostra os senões:
além de igual, é contínuo,
sem marés, sem estações.

E porque tampouco cabe
por isso, pensar que é o vento,
há de ser um outro fluido
que a move: quem sabe, o tempo.

4.
Quando por algum motivo
a roda de água se rompe,
outra máquinha se escuta:
agora, dentro do homem;

outra máquina de dentro,
imediata, a reveza,
soando nas veias, no fundo
de poça no corpo, imersa.

Então se sente que o som
da máquina, ora interior,
nada possui de passivo,
de roda de água: é motor;

se descobre nele o afogo
de quem, ao fazer, se esforça,
e que ele, dentro, afinal,
revela vontade própria,

incapaz, agora, dentro,
de ainda disfarçar que nasce
daquela bomba motor
(coração, noutra linguagem)

que, sem nenhum coração,
vive a esgotar, gota a gota,
o que o homem, de reserva,
possa a ter na íntima poça.

27/09/2007

Folk-Lore

A lira do povo
toca de novo...

"
Chega como eu cheguei
pisa como eu pisei
No chão que me consagrou

Olha que lei é lei
lei que eu nunca burlei
Pois Deus me designou

Olha que lei é lei
lei que eu nunca burlei
Pois Deus me designou

Ao me ver já diz que me conhece
Sem saber bem que eu sou
Conhece mas desconhece
meu real interior

Conhece mas desconhece
meu real interior

Eu sou verso e sou reverso
sou partícula do universo
Sou prazer, também sou dor

Eu sou causa, sou efeito
Eu sou torto e sou direito
Enfim eu sou o que sou

Chega então...

Chega como eu cheguei
pisa como eu pisei
No chão que me consagrou

Olha que lei é lei
lei que eu nunca burlei
Pois Deus me designou

Olha que lei é lei
lei que eu nunca burlei
Pois Deus me designou

Vem na pureza do vento
Na luz que o sol reluz
Sonho que me conduz ao choro
no pé da cruz

De tudo que faz a vida
Desmerecer a razão
E meus olhos se confundem por ver
Tanta ingratidão
"

25/09/2007

Mais

do livro: Martim Cererê; de Cassiano Ricardo
(obra-prima. obra rara.)

Coema Piranga

de primeiro no mundo
só havia sol mais nada
noite não havia

havia só manhã
uma manhã espessa
com a coroa de plumas
vermelhas à cabeça
só manhã no mundo

pois noite não havia
só manhã no mundo
sem nenhuma idéia
de haver noite nem dia

era tudo brasil
tudo era madrugada
não havia mais nada
todas as mulheres
eram filhas do sol
na manhã gentil

e os homens cantavam
que nem pássaros nus
pelos galhos das árvores
sem noite sem dia
porque só havia sol
noite não havia

no começo do mundo
tudo era madrugada
tudo era sol mais nada
tudo amanhecia
permanentemente
nem contínuo arrebol

sem ara nem pituna
sem noite nem dia
cantava o tié-piranga
num ramo do sol
sem nenhuma idéia
de uma noite haver noite
ou de um dia haver dia

mas dois frutos havia
e num deles morava
a Noite no outro o Dia
mas ninguém sabia
em que galho em que arbusto
é que a Noite estaria
e onde estava o Dia

não havia o medo
de perder a hora
ou contar-se um segredo
só havia sol se rindo
se rindo grande e real
como um ruivo animal
dentro do matagal

de primeiro no mundo
noite não havia
tudo era mesmo dia
que tanto sol que havia
era o tempo imóvel
não havia esta coisa
chamada noite e dia
só havia sol mais nada
noite não havia

só manhã no mundo
noite não havia

23/09/2007

espelho d´água

"Um dia um reino resolve declarar guerra a Yemanjá, sabendo que ela não tinha guardas que a protegiam. Então Yemanjá, depois de muito pensar no que deveria fazer para se proteger e vencer a batalha, resolve colocar espelhos de todas as formas na Beira do mar. Quando chega a hora da batalha, Yemanjá vai para a frente dos espelhos com uma espada em punho e quando seus inimigos chegam perto assustam-se com as suas próprias imagens distorcidas refletidas nos espelhos e fogem apavorados contando ao rei que Yemanjá não é sozinha como haviam pensado, mas possui um exército de criaturas horríveis. É assim que Yemanjá vence, sozinha, mostrando a imagem de seus inimigos a eles próprios."

Lacan, ou Jung, disse que os mitos melhor revelam o humano que a ciência.

20/09/2007

Ainda

sobre relógios e espelhos:

Cassiano Ricardo.


Morte em câmara de gás

Tão certa a morte
que inútil marcar-lhe
uma hora exata.
Gosto da lei em ser
exata
não
apenas certa.

Nenhuma razão
pra tanto amor
ao relógio, ao
necrológio.
A data é que lhe põe
(felina) uma gota
de fel em cada
minuto.
E o mata com uma
lentidão de faca.

A justiça, olhos
fechados como os
da noite.
A câmara de gás
talvez
menos vil
se à noite.

Na cela em que o
condenado
dorme
sem data
olhos fechados
como os da justiça.


A física do susto

O espelho caiu a parede.
Caiu com ele o meu rosto.
Com o meu rosto a minha sede.
Com a minha sede eu desgosto.
O meu desgosto de olhar,
no espelho caído, o meu rosto.

19/09/2007

Errata

No texto sobre os espelhos e a literatura fantástica, não citei "O Menino Através do Espelho", de Fernando Sabino, porque comecei a ler, mas não tive ânimo para terminar.

E não citei "Alice Através do Espelho" de Lewis Caroll porque nunca cheguei a ler.

Mas há uma obra que li e reli e que não podia ter ficado de fora. Tanto no texto sobre os espelhos como no texto sobre os relógios.

Mas, graças a Carol, posso me livrar do meu erro. Trata-se de um conto de Machado de Assis: "O Espelho (Esboço de uma nova teoria sobre a alma humana)".

O conto fala de um cidadão que alcançou um alto posto social, e, de repente se vê só, sem as bajulações constantes que o lembram constantemente do privilégio de sua posição. E, a partir daí, o tempo, antes tão agradável, passa a ser massacrante. E sua imagem no espelho, começa a desfocar-se (é notável essa passagem fantástica na literatura realista de Machado). E sua reflexão no espelho só se reestabelece depois que o personagem, solitário, veste sua farda em frente ao espelho, e, narcisamente, se admira e se relembra de seu status social, ainda que distante de qualquer convívio.

Algumas passagens do texto:

"Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência(...) quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo."

"Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro pra fora, outra que olha de fora pra dentro. (...) As duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja."

- Ou um tomate, digo eu!

"um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as moscas."

"Minha solidão tomou proporções enormes. (...) As horas batiam século a século, no velho relógio da sala, cuja pêndula. tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow e topei com este famoso estribilho: Never, for ever! - For ever, never! Confesso-lhes que tive um calafrio: recordei-me daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: Never, for ever! - For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada."

"Tudo silêncio, um silêncio vasto, enorme, infinito, apenas sublinhado pelo eterno tic-tac da pêndula. Tic-tac, tic-tac."

"era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária(...) deu-me na veneta olhar o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o universo; não me estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A realidade das leis físicas não me permite negar que o espelho reproduziu-lhe textualmente, corri os mesmos contornos e feições, assim devia ter sido. Mas tal não foi minha sensação. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava, receei ficar mais tempo e enlouquecer.(...) E levantei o braço com gesto de mau humor, e ao mesmo tempo de decisão, olhando para o vidro; o gesto lá estava, mas disperso, esgaçado, mutilado.(...). De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos."

"Estava a olhar para o vidro, com uma persistência de desesperado, contemplando as próprias feições derramadas e inacabadas, uma nuvem de linhas soltas, informes, quando tive o pensamento...Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e...o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente(...) ei-la recolhida no espelho."

"olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava, gesticulava, sorria, e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente animado, Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo, olhando, meditando."

ps: L'eternite est une pendule, dont le balancier dit et redit sans cesse ces deux mots seulement dans le silence des tombeaux: "Toujours! jamais! Jamais! toujours!"
(Jacques Bridaine)

ficam como sugestões o poema de Henry Longfellow, citado por Machado: "The Old Clock on the Stairs"
e o poema "The Raven" de Edgar Allan Poe, e a tradução de Fernando Pessoa: "O Corvo".

Vox Populi

Jiló Com Pimenta

(Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho)



"Pimenta pode ser da mais ardida
Pois no meu peito já houve ardência maior
Não tenho preferência por comida
Obrigado nessa vida, já engoli coisa pior
Por isso ô nega, ô nega pode preparar o jiló
Ô nega pode prepará,
Ô nega pode preparar o jiló

Mais pimenta

Já engoli sapo, já tomei café puro ninguém teve dó
Aprendi que nesse mundo não se dá ponto sem nó
Sou vagabundo sofrido quase reduzido a pó
Por isso nega, ô nega, pode preparar o jiló
Ô nega pode prepará, ô nega pode preparar o jiló"

18/09/2007

TopiCruZinhos

1. Desde que comecei a estudar filosofia, uma das coisas que mais me fascinou sempre foi a genialidade dos alemães. E uma das coisas que mais me orgulho é ter aprendido a soletrar nomes como: Schopenhauer, Nietzsche, Wittgeinstein e Horkheimer.

2. Uma frase do excelente filófoso, Gaston Bachelard, que excelentes filósofos, como Heráclito, Sócrates, Schopenhauer, Nietzsche, Foucault e Bordieu, certamente simpatizariam.

"A verdade é filha da discussão, não da simpatia"

3. Estive pensando a beleza de poesia que é uma estrutura de DNA, o apelo estético que possui aquela verdadeira dança. Onde cada fita busca a outra incessantemente. E mesmo com o contato sempre adiado, pela intransposição dos obstáculos, nunca chega a desistência, a desesperança. Aprendamos essa lição de vida que a microbiologia nos dá. E lembremos também de Sísifo, que insiste em empurrar sua pedra morro a cima, só para depois vê-la rolar morro abaixo. Não sei se se trata de um asno teimoso, ou de um gênio persistente e invencível. E lembremos também de Albert Camus quando diz que "é preciso imaginar Sísifo feliz!".

17/09/2007

Alien

alien é o semantema do verbo alienar, que significa: tornar alheio. Alien, alienare, vêm do latim e siginificam: outro. Daí, a palavra alienígena, gerado em outro mundo, fora do planeta Terra. Extra-Terrestre.

A alienação, quando se refere aos bens materiais, é termo jurídico, que sigfinica o ato de cessar os bens. Cessar para você e ceder para outrem.

Mas também é termo psicológico, vide o "Alienista" de Machado de Assis. No que se refere a um sentimento de marginalidade, de afastamento do mundo, algo como o autismo, ou a idiotice, termo grego cuja raiz é "id", que possui correspondente latino "ego", e correspondente neo-latino "eu", no português.

O alienado, o autista, o idiota, não percebe e não se importa com o mundo a sua volta, feito de outras consciências perceptoras e conflitantes (o inferno existencialista). Esse sujeito cria seu próprio mundo, no seu egocentrismo fantástico.

A filosofia, a ciência, desde cedo, combateram a alienação, a idiotice. Pregando, desde a antiguidade, o engajamento político do cidadão (animal político de Aristóteles) e criando terapias para os loucos, anormais, alienados racionais. Sem nunca definir exatamente o que seja a normalidade, é bom que se diga.

Pelo contrário, as artes, literaturas, poesias, mitologias, as religiões, apostam em certas alienações coletivas, em certas idiotices grupais. Deve ser por isso que são mal-vistas pela racionalidade. Vide Marx e sua noção de "ópio do povo".

O que se pode discutir é que as racionalidades talvez sejam exemplo de autismos sociais tanto quanto qualquer outra "irracionalidade". Vide Raymond Aron e sua noção de "religião secular".

14/09/2007

Tempo

Refletidos os espelhos, apontaremos os relógios, que também são símbolos de maior importância.

Durante toda a antiguidade até a idade média, era considerada vilania a cobrança de juros. Se argumentava que não se pode vender o que não se tem, nem comprar o que não se pode ter. E cobrar juros é negociar o tempo, e se o tempo pertence a Deus (Chronos para os pagãos) nenhum homem pode comercializá-lo.

Porém, com o advento do capitalismo, logo lá no comecinho, com o início da derrocada dos grandes sistemas europeus de feudos, e o ressurgimento e solidificação de cidades-Estado nas vias de importantes rotas marítimas e comerciais (mercantilismo), e com a existência de um povo discriminado das mais importantes atividades econômicas (judeus), a prática de empréstimos a juros começou a amadurecer e finalmente chegou pra ficar. Para tanto, ver "O Mercador de Veneza" de Willian Milk Shakespeare, o livro. E ver também a adaptação em filme. com Robert De Niro, como o banqueiro Shylock.

Então, se o tempo passou a ter custo, a ter preço, se as badaladas dos sinos e o cucar dos cucos entraram na lógica das curvas cruzadas de oferta e demanda, é bem evidente que o girar dos ponteiros ficou bem mais endurecido. Pouco importa se o tempo é medida relativa, que, junto com o espaço, se contrai e se dilata. Muito importa quanto vale o tempo, qual a taxa de juros aplicada ao montante, qual o prêmio pelo risco, qual o spread entre as taxas de juros interna e externa.

Então, os dias que são muitos, e eram de muitos deuses, passaram a ser de um só deus: Mamôn. Inclusive o sabath dos judeus, o dia de Saturno (saturday) dos anglo-saxões, e o nosso sábado, que hoje em dia é domingo, que era dia do Sol (sunday).

Alguns exemplos recentes dessa relação com o tempo são as cadeias fast-food. Se o pizzaiolo e o motoqueiro demorarem mais de meia hora pra entregar a sua pizza você como a pizza de graça, e é muito claro que eu não quero te dar minha pizza de graça, eu quero teu dinheiro, então chicote no moto-boy e no cozinheiro.

As fábricas modernas orientais, que surgiram no último quarto do século passado, pós-crise do petróleo e crise das linhas de montagem fordistas, são chamadas just-in-time, nome bastante sugestivo. Os insumos que o produtor necessita precisam estar disponíveis no exato momento em que forem requeridos, nem antes nem depois. E o cuco cuca.

Nessas fábricas, sobretudo as de microeletrônica e de automóveis, são notórias suas práticas de flexibilização, dinamismo e mobilidade das relações de produção. Parmênides, Zenão, Platão e Aristóteles se contorcem querendo sair do túmulo.

E acho que as artes, principalmente o cinema e a literatura (aliados), demonstraram os sintomas dessa ditadura dos relógios, e vou citar os exemplos.

No Labirinto do Fauno(que é passagem importante nas mitologias gregas), o vilão possui um relógio de prata que foi de seu pai e que permitiu ao filho (o ditador) saber a exata hora da morte de seu progenitor, e quando o ditador morre, pede para que dêem seu relógio a seu filho recém-nascido para que ele tome ciência exata da hora em que o pai faleceu.

No Lavoura Arcaica, filme baseado no livro do brasileiro-argelino Raduan Nassar, a figura do avô é uma figura sinistra, parva, turva, opaca, e a única coisa que reflete a luz em tal figura é um relógio de bolso dourado.

No Little Children, outra adaptação de livro, que ganhou Oscar, a presença dos relógios são massacrantes, a ponto de uma das antagonistas controlar o tempo de maneira absurda. Chama as crianças na exata hora para o lanche, e para solucionar os problemas sexuais com o marido, faz sexo em horas pré-estabelecidas. Mas a principal noção de tempo explorada no filme é o tempo se dilata de tal maneira que os personagens, todos em idade adulta, permanecem num estado infantil infindável.

No Clube da Luta, mais uma adaptação de livro (Chuck Palaniuck) o protagonista trabalha numa companhia de seguros, portanto negocia o tempo e pior, negocia o tempo sobre conceitos calamitosos, como desastres automobilísticos; a ponto de ter devaneios com quedas de aviões, enquanto ainda está nos aviões! E tal personagem começa a perder a noção usual de tempo, o que o leva ao máximo de explodir o próprio apartamento. Ele começa a mostrar os sintomas de perda de noção temporal quando começa a guiar seu calendário pela cor da gravata que o chefe usa. Se a gravata é azul ou amarela, ele deduz que deve ser terça ou sexta-feira.

Nos filmes De Volta Para o Futuro e Efeito Borboleta são usadas algumas teorias famosas das ciências físicas e matemáticas para dar mote ao enredo. Como a noção de elasticidade do tempo de Einstein e da Teoria do Caos. Entretanto, nesses filmes as voltas e revoltas no tempo são sempre previamente anunciadas, para que o telespectador não se perca na história.

No filme Amnésia, o protagonista sofre de perdas de memória, e conserva suas reminiscências ao longo do próprio corpo, ao final de cada dia ele tatua todos os eventos em sua pele para que possa lembrar deles no dia seguinte. Aqui vale lembrar que o verbo para reminiscências, em inglês, é remember, isto é, remembrar, tornar membro novamente. Como se cada evento, cada fenômemo que nós presenciássemos ficasse gravado em nosso corpo. Como se as memórias fossem membros acoplados em nossos corpos além de nossos braços e nossas pernas. E que cada esquecimento fosse um desmembramento. E cada lembrança um remembranmento. Remember. E como o personagem se esquece o tempo todo dos eventos, o filme também se esquece, e assim, vem e vai, o tempo todo, no tempo, para buscar as respostas.

Outro filme que explora com maestria a relação de tempo é 21 Gramas, nele há uma descontrução do tempo através de uma narrativa não linear. Não se usa uma simbologia, como os relógios, para se referir ao tempo, mas se usa a própria estrutura de narrativa do roteiro. Onde se permanece o tempo todo no limite extremo entre a confusão total e a elucidação. Entre a redundância e a informação. Por não seguir uma cronologia convencional, cada cena, por mais pequena, pode trazer explicações absurdas sobre o que realmente se passa no enredo.

Para citar mais uma obra literária, no livro Budapeste, também se encontra esse artíficio de narrativa não linear que confunde o leitor sobre as conexões das imagens e a realidade dos eventos.

E por fim, nas artes plásticas, temos o modernismo surrealista de Salvador Dalí, e as imagens de seus relógios oníricos se dissolvendo no espaço-tempo.

Reflexões

Médium. Mídia. Meio. Mediação.

São palavras que possuem a mesma raiz etimológica.

A internet, por exemplo, é o meio por onde se comunicam os blogueiros. Ela faz a mediação entre os que lêem e os que escrevem. Uma mídia com um grau de interatividade muito maior do que a televisão, onde cada leitor pode tornar-se instantaneamente um escritor, cada receptor é simultaneamente emissor. A internet é o médium pós-moderno.

Porém, a palavra: "médium" acabou por assumir um carácter exclusivamente místico, siginificando aquilo que faz a mediação entre mundos distintos e separados, como o mundo dos mortos e dos vivos e o mundo das idéias e das matérias. E essa mídia geralmente é olhada com desdém e tratada como exótica, no viés de outras visões "lógicas".

Há outra mídia muito importante ao longo da história e também vista com muito ridicularizar nos últimos tempos. Se trata dos "aedos", trovadores, poetas, que fazem a ligação entre esse mundo e outros mundos fantásticos.

Há semelhanças claras entre as mediações místicas e as fantásticas, mas, a meu ver, os mediadores do primeiro caso pregam a existência de um mundo fora desse mundo e mais, um mundo sobre esse mundo; um super-mundo, no topo de uma hierarquia. Daí porque me parece que Platão foi tão importante para Alan Kardec.

Agora, diferentemente dos médiuns religiosos, os médios artísticos fazem a ligação desse mundo com ele mesmo, o que eles alteram são as ordens. As fantasias são ordens distintas da mesma realidade que estamos acostumados a olhar pela ótica rotineira, enfadonha e simplória.

Bertrand Russell, em Introdução à Filosofia Matemática, demonstra que a ordem dos números naturais que começa em 1 e vai sempre acrescentando mais um até onde der, está longe de ser a única ordem pela qual os números podem ser arrumados, não é nem ao menos a ordem mais correta, é simplesmente a ordem mais simples. E nos acostumamos tanto a ela, desde a infância, que chegamos a achar que só existe essa. Ledo engano.

Aliás, Russell diz que nós nem ao menos ordenamos as coisas, ou os números, conforme o exemplo; ao contrário, todas as coisas já têm entre si todas as ordens a que são possíveis. O que compete a nós, observadores, é apenas atentar para elas. Para as coisas e suas ordens.

E eu acho que esses artistas de palavras fazem justamente isso, desvelam outras ordens. Ocultas não porque essencialmente ocultas, mas por nossa falta de visão em buscar novas ordens, que são igualmente aparentes, porém menos simples, menos "racionais", enfim muito doidas e fantásticas. Pura perda de tempo, talvez.

Acredito que os fantasistas agem como espelhos desse mundo, espelhos ativos que rearranjam as coisas, que fazem a ligação desse mundo com ele mesmo, refletem sobre ele, e acham novas conexões, e, por isso, são espelhos ativos, que apontam, indicam.

E assim chegamos a um símbolo muito importante na histórias das fantasias, das mitologias, que são justamente os espelhos.

Os espelhos já eram simbolizados antes mesmo de existir como um artefado de vidro e metal, quando ainda eram meras lâminas-d´água. Daí Narciso que, já nas mitologias antigas, usava os espelhos para metaforizar muito menos o galã que se auto-admira do que o dogmático que se prende e se perde absurdamente nas certezas de suas reflexões.

A metáfora dos espelhos também está presente em outras passagens famosas como nos contos de fadas "A Branca de Neve". Nos contos fantáticos modernos, Jorge Luís Borges, em "Ficções", diz ser possível construir um universo movido apenas por espelhos e enciclopédias; ainda na literatura temos o espelhamento em "Budapeste" de Chico Buarque, que, como disse Caetano, faz um jogo de espelhos, onde se perde a referência do objeto refletido e, portanto, cada reflexão passa a ser a apresentação do objeto real.

No cinema, temos "Fight Club", onde o protagonista olha o tempo todo pra si mesmo ao olhar para outros personagens como Tyler Durden e Marla Singer. Em "21 Grams", o espelhamento nos dá a noção de paralelismo e de dialética, quando os dois protagonistas ganham corações novos e sádios, um pela religião, outro pela ciência, para repor seus antigos corações enfermos. E depois da redenção, a queda; os novos corações limpos se sujam e envelhecem. E ascensão e queda também nos remetem aos espelhos, pois a via que desce; diante do espelho, sobe. Como nos diz Heráclito: "o caminho para cima e para baixo é um e o mesmo". No espelho, o sinistro se faz destro e o destro se faz sinistro.

Nas artes plásticas, temos as obras de René Magritte e Juan Velásquez que exploram a noção de espelhamento e reflexão e as possíveis confusões que daí podem surgir. Na introdução do livro "As Palavras e as Coisas" Michel Foucault faz um estudo de 20 páginas sobre um quadro de Velásquez (As Meninas) e mostra como o artista, usando o artifício do espelho, multiplica em vários o centro da obra, de maneira tal que não se percebe um centro principal e, a exemplo do Budapeste de Chico Buarque, o objeto que se apresenta se confunde com suas reflexões, e, assim, cada nova reflexão e como a apresentação de um novo objeto que se metaformoseia a cada instante.

Na filosofia, nos remetem as metáforas dos espelhos as noções dos antigos gregos de mimesis e reminiscências, que são algo como imitação e lembrança, respectivamente. Os espelhos passivos se contentam com a mera imaginação reprodutora (termo de Bachelard), ou lembrança rotineira (Bergson), que consiste em algo como uma memória mecânica que apenas reproduz os objetos que se lhe apresentam.

Mas como já foi dito, aqui se tratam de espelhos ativos, que possuem imaginação criadora (Bachelard), lembranças intencionais (Bergson), que lembrando e imaginando, imitam de uma forma diferente, criam o novo. Reparam, mostram e refletem o que estava eclipsado.

Acho que também se faz importante uma citação a revolução que Kant promoveu na epistemologia filosófica ao admitir a questão do sujeito como central, algo que, penso, já teve início em Descartes. Não se trata apenas da consciência que imagina, reflete, cria e reproduz imagens exteriores a si. Fala-se agora da consciência que se volta sobre si mesma, que se reflete, busca uma imagem própria de si para si. E assim temos um espelho de frente pro outro, e reflexões dentro de reflexões, infinitamente. E a indissociação entre objeto refletido e objeto refletor.

De volta ao cinema, no Filme "Adaptação" dos excelentes irmãos Kaufman, gêmeos diretores e roteiristas, o espelhamento é magistralmente utilizado para confundir, na obra, o que é "realidade" e o que é "ficção". O autor do filme e o próprio filme se confundem e fica muito difícil separar as coisas "racionalmente". "Mais Estranho que a Ficção" tentou fazer um plágio da idéia, acho que não deu muito certo.

Por fim, fica aqui a dica para que se veja uma obra-prima do cinema fantástico, dos irmãos Kaufman: "Quero ser John Malkovich". E fica o conselho para que reflitamos ativamente sobre as coisas e suas ordens, e busquemos o novo e o inusitado.

13/09/2007

A Verdade

I

É muito famosa, nas mitologias subsaarianas pré-cabralinas e pré-colombianas, a lenda do whiteless man que foi levado como escravo e que, ainda no cativeiro, escrevia versos livres e brancos e revolucionários. Dizem até que ele esteve no germe da Revolta de Palmares e influenciou a queda da Bastilha.

O fato é que a civilização de onde vinha tal guerreiro era bastante avançada, pois já conhecia a moeda e a palavra, e também conhecia a pólvora, mas não conhecia como usá-la, daí não ter sido a civilização mais avançada (ie, no topo da cadeia alimentar) e ter padecido e sido subjulgada.

Conta-se que na terra natal do guerreiro, havia um Rei que era um semi-Deus, e que um dia, no centro da praça, esse Imperador sussurrou uma palavra. E sussurrou tão baixo qual uma brisa, que foram poucos os que o ouviram e mais poucos os que o entenderam. E os que ouviram sem entender ficaram surdos, tiveram seus tímpanos estourados. E os que ouviram e entenderam ficaram mudos, suas cordas vocais sumiram, e, desde então, se diz que tais entendem até os cantos dos pássaros, mas não são capazes de um simples assovio.

Diz-se também que o tal Rei, semi-Homem, ao sussurrar aquela palavra, lançou ao ar uma moeda, e, daquele momento até os dias de hoje e para todo o sempre, essa moeda gira no ar, sem nunca cair ao chão. E quando toca o solo é somente por um instante de tempo ínfimo, com a única finalidade de tomar um impulso maior para tornar a voar, e ainda mais alto.

E mesmo com toda a infimidade do instante em que a moeda toca o solo, ela causa tal impressão nos mudos que durante 365 semanas ficam a se contorcer em caretas que os cientistas ainda não definiram se são de gozo ou de dor. Pressupõem-se que a origem de tal evento esteja numa frequência sonora absoluta.

Mas contundo e entretanto, profetiza-se que haverá o dia em que a moeda tocará definitivamente o solo, porém profetiza-se também que ela caíra de pé, e que a peleja será interrompida, mas não definida. E ainda nas linhas das profecias, diz-se que uma brisa chegará de algum lugar um dia, derrubará a moeda e decidirá por uma das faces.

Especula-se que até esse dia a humanidade se dividirá em dois enormes blocos, enormes, mas dois apenas, postos cada qual em frente a um dos lados da moeda, e que esses dois enormes blocos soprarão horrores. Nascerão homens naturalmente evoluídos e geneticamente modificados com pulmões enormes e nascerão máquinas minúsculas capazes de por em movimento uma quantidade inquantificável de ar.

Mas que nada disso terá qualidade. O que derrubará a moeda será uma brisa leve. E nenhum dos dois blocos deverá ter essa revelação, e que se a tiver que não se acredite nela, e se acreditar que hajam como se não cresse, ou melhor, como se nem soubesse.

E por fim, acredita-se que essa brisa virá dos calcanhares do guerreiro que partiu no começo da história.

12/09/2007

Lute!

Heráclito nos disse, há 2 vírgula 5 milênios atrás, que o combate é o princípio de tudo.
Vos digo hoje, então, para que telespectem o filme "Fight Club" and "recycle your animals".

Ah! and "lose your tie!"

11/09/2007

Tópicos

1. Hoje de manhã na aula de economia regional e urbana com ênfase na região fluminense (olha!), a professora nos ensinou o conceito social de não-lugar, que consiste nos lugares que não trazem as marcas específicas e distintivas, naturais e sociais de onde estão. Lugares que não existem, grosso modo. Ou que não deveriam existir, pelo menos não com o destaque que possuem.

E como exemplo ótimo dos não-lugares ela citou os shoppings centers; que na capital de São Paulo, no interior de Minas Gerais, nos Estados Unidos e no Japão são idênticos. E você muito mal consegue diferenciar as culturas dentro desses prédios. O máximo do estereótipo e do esvaziamento. Um local social dessa magnitude sendo produzido em larga escala ao redor do globo a ponto de perder seu carácter e virar pelo avesso.

2. Deparei-me com um livreto: "O Que É Utopia?" em cuja capa havia uma pirâmide de cabeça pra baixo. A imagem representa muito bem o termo, que normalmente consiste em subverter, virar de cabeça pra baixo, a ordem vigente. Mas a ordem vigente possui engenharia tão complexa que subvertê-la é muito complexo, mantê-la subvetida ou subvertente é muito mais. Como manter em pé uma pirâmide sustentando-a sobre apenas um de seus vértices. E depois vem a idéia de "revolução permanente de Trotsky" e de revolucionar a revolução, aí se chega aos paroxismos e à Babilônia e neguinho já começa a pensar que a melhor maneira de subverter a pirâmide é descer a marreta nela, ou transformá-la num quadrado, ou, meticulosamente, com o martelo e o cinzel, fazê-la uma esfera.

3. Não sou muito afim com as filosofias idealistas, porque querem que a matéria tenha origem nas idéias e formulam suas idéias com origem na matéria. Entendeu? Tento explicar: pensa-se sempre que o mundo ideal é imutável, estável para todo sempre. E que coisa mais chata. Pra mim, se a realidade aparente possui dinamismo, a realidade ideal o deve possuir muito mais. Aristóteles, que foi a antítese de Platão, imaginou o idealismo da seguinte forma: tudo se move, e tudo que se move se move porque possui um motor que o move e cada motor também se move e também possui um outro motor que o move e se move também. Entendeu? E assim seria todo mundo se movendo, com a finalidade única de chegar o dia em que se poderia ficar parado. E qual é o único motor imóvel de Aristóteles?!?! Deus!
Fala sério. Se há movimento, Deus, pra mim, deve ser o maior movente, deve possuir a maior mobilidade, o maior dinamismo do universo, e as outras idéias, menores que Deus e maiores que toda matéria, também devem possuir uma dinâmica bem avançada, bem mais veloz que nossa simples matéria. Daí, muito mais que buscar o repouso deve-se buscar mover-se sempre e sempre mais.

Acho que a epistemologia e a filosofia da ciência de Karl Popper e Thomas Kuhn já possuem bem essa noção de dinamismo e mobilidade. Assim como a antropologia de Claude Lévi-Strauss. Que não se contentam nem acreditam na explicação única, definitiva e linear em qualquer área do conhecimento.

4. Meu projeto científico mais ambicioso é aplicar a obra-prima de Lévi-Strauss, a saber, o livro: "O Cru e o Cozido" onde ele explica a importância da alimentação para as sociedades históricas, não só como fonte de energia química, mas como fenômeno social (comensalidades) e apelo estético, no que os alimentos importam aos nossos sentidos, a saber, não só o paladar, mas todos eles. Um fato de interação social que envolva tanta estética quanto a comida no sentido denotativo, só existe na própria comida, agora no sentido conotativo. Mas enfim, meu projeto filosófico-artístico-mitológico com ênfase na psicanálise e tópicos de teoria quântica, é, meu projeto, finalmente, aplicar a teoria de: "O Cru e o Cozido" na problemática dos tomates universais.

Ah! também é importante a idéia dos antônimos, dos contrastes. Certo Errado. Mal Bom. Destro Sinistro. Cru Cozido. E a dialética que resulta disso. E da dialética que resulta da anti-dialética, por isso adoro a dialética porque ela se confirma no seu contrário. Se reforça no seu antônimo.

5. Um colega meu de classe fez a monografia dele sobre o tema da reciclagem, foi uma sugestão bem sugestiva mesmo do professor, mais ou menos do tipo, se quiser que eu te oriente vai ter que escrever sobre isso. E estou fazendo uma matéria com esse professor nesse período, que é: "Economia de Empresas 1", o conteúdo é contabilidade pura. E o cara dá seu jeito de falar sobre reciclagem. É um bom sujeito, bom professor até, que já no primeiro dia de aula nos deu tal definição: "Uma pergunta, por definição, não pode ser errada." Pense nisso. Sócrates poderia ter dito isso. Mas o assunto é reciclagem. Repara bem no prefixo e no semantema: re-ciclo. O que foi luxo, virou lixo no ciclo anterior, voltará a luxo e depois lixo no reciclo. Mais ou menos como nos disse o filme Fight Club, com o adendo, aqui, de que a intenção é que vale e vale muito. A reciclagem deve ser consciente. E está inserida em todos os campos, nos mais variados aspectos. Como por exemplo as mitologias antigas, que foram luxo na antiguidade, viraram lixo na escolástica medieval, e tornaram a luxo nos modernos classicismo, neo-classicismo e neo-moderno modernismo.

Portanto, movimente-se, circule-se, recircule-se.