11/09/2007

Tópicos

1. Hoje de manhã na aula de economia regional e urbana com ênfase na região fluminense (olha!), a professora nos ensinou o conceito social de não-lugar, que consiste nos lugares que não trazem as marcas específicas e distintivas, naturais e sociais de onde estão. Lugares que não existem, grosso modo. Ou que não deveriam existir, pelo menos não com o destaque que possuem.

E como exemplo ótimo dos não-lugares ela citou os shoppings centers; que na capital de São Paulo, no interior de Minas Gerais, nos Estados Unidos e no Japão são idênticos. E você muito mal consegue diferenciar as culturas dentro desses prédios. O máximo do estereótipo e do esvaziamento. Um local social dessa magnitude sendo produzido em larga escala ao redor do globo a ponto de perder seu carácter e virar pelo avesso.

2. Deparei-me com um livreto: "O Que É Utopia?" em cuja capa havia uma pirâmide de cabeça pra baixo. A imagem representa muito bem o termo, que normalmente consiste em subverter, virar de cabeça pra baixo, a ordem vigente. Mas a ordem vigente possui engenharia tão complexa que subvertê-la é muito complexo, mantê-la subvetida ou subvertente é muito mais. Como manter em pé uma pirâmide sustentando-a sobre apenas um de seus vértices. E depois vem a idéia de "revolução permanente de Trotsky" e de revolucionar a revolução, aí se chega aos paroxismos e à Babilônia e neguinho já começa a pensar que a melhor maneira de subverter a pirâmide é descer a marreta nela, ou transformá-la num quadrado, ou, meticulosamente, com o martelo e o cinzel, fazê-la uma esfera.

3. Não sou muito afim com as filosofias idealistas, porque querem que a matéria tenha origem nas idéias e formulam suas idéias com origem na matéria. Entendeu? Tento explicar: pensa-se sempre que o mundo ideal é imutável, estável para todo sempre. E que coisa mais chata. Pra mim, se a realidade aparente possui dinamismo, a realidade ideal o deve possuir muito mais. Aristóteles, que foi a antítese de Platão, imaginou o idealismo da seguinte forma: tudo se move, e tudo que se move se move porque possui um motor que o move e cada motor também se move e também possui um outro motor que o move e se move também. Entendeu? E assim seria todo mundo se movendo, com a finalidade única de chegar o dia em que se poderia ficar parado. E qual é o único motor imóvel de Aristóteles?!?! Deus!
Fala sério. Se há movimento, Deus, pra mim, deve ser o maior movente, deve possuir a maior mobilidade, o maior dinamismo do universo, e as outras idéias, menores que Deus e maiores que toda matéria, também devem possuir uma dinâmica bem avançada, bem mais veloz que nossa simples matéria. Daí, muito mais que buscar o repouso deve-se buscar mover-se sempre e sempre mais.

Acho que a epistemologia e a filosofia da ciência de Karl Popper e Thomas Kuhn já possuem bem essa noção de dinamismo e mobilidade. Assim como a antropologia de Claude Lévi-Strauss. Que não se contentam nem acreditam na explicação única, definitiva e linear em qualquer área do conhecimento.

4. Meu projeto científico mais ambicioso é aplicar a obra-prima de Lévi-Strauss, a saber, o livro: "O Cru e o Cozido" onde ele explica a importância da alimentação para as sociedades históricas, não só como fonte de energia química, mas como fenômeno social (comensalidades) e apelo estético, no que os alimentos importam aos nossos sentidos, a saber, não só o paladar, mas todos eles. Um fato de interação social que envolva tanta estética quanto a comida no sentido denotativo, só existe na própria comida, agora no sentido conotativo. Mas enfim, meu projeto filosófico-artístico-mitológico com ênfase na psicanálise e tópicos de teoria quântica, é, meu projeto, finalmente, aplicar a teoria de: "O Cru e o Cozido" na problemática dos tomates universais.

Ah! também é importante a idéia dos antônimos, dos contrastes. Certo Errado. Mal Bom. Destro Sinistro. Cru Cozido. E a dialética que resulta disso. E da dialética que resulta da anti-dialética, por isso adoro a dialética porque ela se confirma no seu contrário. Se reforça no seu antônimo.

5. Um colega meu de classe fez a monografia dele sobre o tema da reciclagem, foi uma sugestão bem sugestiva mesmo do professor, mais ou menos do tipo, se quiser que eu te oriente vai ter que escrever sobre isso. E estou fazendo uma matéria com esse professor nesse período, que é: "Economia de Empresas 1", o conteúdo é contabilidade pura. E o cara dá seu jeito de falar sobre reciclagem. É um bom sujeito, bom professor até, que já no primeiro dia de aula nos deu tal definição: "Uma pergunta, por definição, não pode ser errada." Pense nisso. Sócrates poderia ter dito isso. Mas o assunto é reciclagem. Repara bem no prefixo e no semantema: re-ciclo. O que foi luxo, virou lixo no ciclo anterior, voltará a luxo e depois lixo no reciclo. Mais ou menos como nos disse o filme Fight Club, com o adendo, aqui, de que a intenção é que vale e vale muito. A reciclagem deve ser consciente. E está inserida em todos os campos, nos mais variados aspectos. Como por exemplo as mitologias antigas, que foram luxo na antiguidade, viraram lixo na escolástica medieval, e tornaram a luxo nos modernos classicismo, neo-classicismo e neo-moderno modernismo.

Portanto, movimente-se, circule-se, recircule-se.

3 comentários:

Anônimo disse...

Guerra e Paz, Òdio e Amor, o Lixo e o Luxo.

Ainda que eu seja singular como leitor, me senti agredido com palavras como "neguinho" e "fala sério".
Sou apenas um leitor e não um critico, porém não consigo não criticar algo quando leio.

Ótimas divagações.

abstrato de tomate disse...

muito obrigado, novamente. e continue leitor e crítico.

Anônimo disse...

Uau!! Estou iluminado!
Brother, tinha me esquecido do 'cru e cozido', é transdisciplinar pra caramba!
Clap! Clap! Excelente post.
Sou teu fã!

Ah!! tenho uma novas inquietações lá...