04/10/2007

Pés

Pablo Neruda faz muitas alusões aos pés, prova disso são seus versos:

"e num duplo rio chegava a seus pés,
grandes e claros"

"Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,"

"Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,"

bem como no poema

Os teus pés

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada púrpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram vôo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

e fora as citações diretas aos pés nos versos dos poemas, há inúmeras citações indiretas, por verbos como caminhar, andar, ir, vir, chegar, viajar, encontrar...

A poesia de Neruda possui a noção de movimento, e do movimento singelo dos pés descalços.

E aqui, veremos Manuel Bandeira se aproximando, a seu modo, de Pablito!

Ad Instar Delphini

Teus pés são voluptosos: é por isso
Que andas com tanta graça, ó Cassiopéia!
De onde te vem tal chama e tal feitiço
Que dás idéia ao corpo, e corpo a idéia?

Camões, valei-me! Adamastor, Magriço,
Dai-me força, e tu, Vênus Citeréia
Essa docura, esse imortal derriço...
Quero também compor minha epopéia!

Não cantarei Helena e a antiga Tróia,
Nem as Missões e a nacional Lindóia
Nem Deus, nem Diacho! Quero, oh por quem és,

Flor ou mulher, chave do meu destino,
Quero cantar, como cantou Delfino,
As duas curvas de dois brancos pés!



glossário

para os gregos, a cidade de Delphos era omphalos, ie, o umbigo do mundo; o centro absoluto do relativo círculo. E foi lá que Apolo matou a serpente e fundou seu oráculo.

Também houve um poeta brasileiro do século XIX, que se chamava Luís Delfino.

Talvez essas duas colocações lancem luzes sobre o poema, talvez; não sei!

Nenhum comentário: