25/08/2008

A Pedidos

Então, como minha digníssima Carol pediu, aqui vai um post improvisado.

Como certa vez escreveu o etnólogo, Levi-Strauss, o homem é sobretudo um classificador. E isso tem origem no que o etnólogo, Titiev, chama de mentalidade algébrica. Portanto, sendo o que nós somos, classificadores, está longe de ser um absurdo que classifiquemos a nós mesmos. E o parâmetro é sobretudo o financeiro. Então quando Marx fala em classes econômicas, está muito distante de um completo desvairio, apesar de não poder se dizer que absolutamente todos os membros de uma mesma classe mijem em pé ou sentados, classificações são de muita valia para construção de hipóteses e modelos teóricos em ciências sociais, sobretudo sobre o parâmetro monetário.

Mas como diz Chomsky, é uma ingenuidade imaginar que haja uma classe dominante extremamente consciente e arquitetada. Mas há de fato uma minoria possuidora que possui muitos interessses em comum.

Se sabe que a religião é intenso fator de coesão social, talvez tenha sido o primeiro, desde os tempos da pedra velha e lascada. Porém, a partir da idade do metal, com o surgimento do comércio em larga escala, e com a ereção dos primeiros impérios, a religião passou a ser também fator importantíssimo de dominação e alienação. O que fez Marx denominá-la ópio do povo, o que de fato vinha sendo durante milênios até, inclusive, as nossas idades moderna e contemporânea.

Os socialistas e comunistas em geral queimam a casa para pegarem o rato, ie, já que durante muitos séculos em muitas partes a religião foi e vem sendo usada para fins espúrios, acabe-se com a religião.

Eu creio numa exeriência religiosa legítima e pessoal, mas também concordo que a esfera religiosa dá espaço para dominação de massas incultas. Por isso defendo a separação entre Estado e Igreja, a começar pela extinção das religiões oficiais de Estado.

E qualquer um que tenha entrado minimamente em contato com estudos antropológicos sabe que não há religião pura, cultura pura, raça pura. Tudo é um constante misturar-se, tudo é um enorme sincretismo. Então, posso dizer que não só eu, mas a história e os povos, mesmo que não o saibam conscientemente, são pluralistas. E não é à tôa que o nascimento de Cristo é comemorado na mesma data de um dos maiores deuses dos agricultores e pastores pagãos, e também não é mera coincidência que essa data seja, no Hemisfério Norte, exatamente o marco do soltício de inverno. Que é quando se inicia o período mais frio, escuro e menos fecundo do ano, mas também se inicia a esperança de que o a luz e o calor retornarão na primavera.

Enfim, dei toda essa volta para dizer que apesar de criticar a religião não me posiciono dogmaticamente contra ela. Afinal, criticar não é sinônimos de não gostar e muito menos de mal-dizer, a prudência se deu mais pelo fato de ter citado Karl Marx, porque não pretendo ser misunderstendido.

Agora, sabemos que durante milênios a religião foi bem (ou mal, depende do ponto de vista) usada como fator de dominação e alienação, repito. Porém, sabemos também que, sobretudo nas sociedades ocidentais, vamos passando por uma forte laicização, o que não deve corresponder exatamente num decréscimo das práticas religiosas, mas numa descrença nas religiões institucionalizadas. Enfim, não temos muito mais paciências para os conselhos políticos e éticos do padre, do bispo do papa e etc. Falo isso de maneira geral.

Então te pergunto, se a Igreja não pode mais dar o aval para as opressões diante de uma sociedade laica, o que deve substituí-la. E te respondo, o Mercado.

Se antes tínhamos hordas de analfabetos obrigados a engolir, nas missas, as ladainhas em latim clássico do que entediam muito pouco, quase nada. (E cujo acesso às escrituras era duramente vedado (e isso está longe de ser um privilégio do latim cristão, no Egipto e etc era o mesmo que se dava)). Hoje temos multidões matematicamente analfabetas que são obrigadas a engolir números e mais números que, presumidamente, traduzem o mundo nos noticiários.

Enfim, os economistas substituiram os frades, e no lugar das escrituturas e suas interpretações, hermenêuticas e exegeses, temos, então, planilhas e papers. E os mendigos, que não têm conta em banco, e provavelmente também não têm alma, mas que são muito espertos, já estão saindo das portas das Igrejas e indo pras portas das agências bancárias. E outros ainda mais espertos, e longe de ser mendigos, aliam religião e finanças a ponto de erigir um império das comunicações.

Logicamente que não se propõe o fim das religiões e dos mercados. Mas como Luthero aproximou do povo as escrituras, está mais que na hora de aproximá-lo então da matemática, que é a língua que diz cada vez mais o mundo, não só natural, mas também social.

Há que se evitar que alguns poucos ditem tudo numa linguagem que todos os outros não entendem. A democratização começa aí.

ps: muito se tem, aqui no nosso país, o conceito de gênio iluminado, são figuras de destaque histórico, sejam cientistas, religiosos, políticos, artistas, que se tornam verdadeiros heróis no imaginário comum. Nada mais falso. Prova é que dois estudiosos citados aqui foram capazes de proferir muitas estupidezas.

Karl Marx tinha formação em filosofia, direito e história, seu conhecimento de matemática era pífio, e isso colaborou enormemente para a fragilidade de muitas de suas teorias.

Já Martinho Lutero foi capaz de dizer que Kepler, quando este último trabalhava numa teoria matemática da astronomia em oposição às peripécias da astrologia, não passava de um astrólogo inútil e petulante e que as pessoas sensatas não deviam lhe dar ouvidos. E já sabemos bem a importância que teve Kepler, junto com Copérnico, Galileu e Newton, nas física e astronomia moderna.

3 comentários:

Anônimo disse...

E além dos cientistas, religiosos, políticos e artistas, temos em nosso país o Bispo Macedo _ uma celebridade religiosa á parte.

Muito bom este tópico " improvisado" .
E a pedidos, escreva outros ( pra mim!) :D

Bjs, Carol.

Anônimo disse...

Talvez seja exatamente nesse ponto em que economia e religião se (con)fundem ao invés de um fim, como você ponderou. Talvez a nova religião seja o mercado, do modo capitalista de pensar, de forma tal que os valores não0 se misturem, mas se modifiquem. Aliás, a comercialização está tão entranhado na cultura (no sentido de que tudo muda o tempo todo e de certa forma estamos correndo demais pra parar e ver) que passou a ser empregado nas religiões. Não digo todas, não digo igrejas ou denominações. Mas de fato temos hoje uma sociedade aculturada, alienada (e porque não, abobada), que na onda do mundo dos números se deixa enganar por quem parece ser mais idiota e no final tá anos-luz na esperteza.
Fez algum sentido?
Bom, é isso. Gostei do post.
Bj

Anônimo disse...

Vinicius meu caro,

Li este teu post outra vez e tive uma outra visão.
Penso que há muitas outras formas de religião que não exatamente são declaradas como tais, que "aboboam" muito mais os homens do que algumas práticas declaradamente religiosas, e que nada de matemática e lógica têm para o regimento de vida de um ser humano.
Não falo do mercado econômico em si, pois este acredito ser realmente um fator crítico para a sociedade, principalmente para aqueles que pouco o entendem. Mas penso que seguir alguns padrões de forma inflexivel também é um culto, uma religião.
Pensadores como os que você citou no texto são altamente respeitáveis em suas teorias filosóficas, mas assim como não podemos nos alienar somete para a biblia ou para o alcorão, também não devemos nos alienar para a ciêcia. Pois a ciência é feita por homens. E homens falham.
É bastante dificil acreditar em muitas coisas que as religiões pregam, até mesmo em muitas coisas que estão escritas na biblia ou nos contos dos orixás. Mas o que é o homem sem a fé?
Não terminou o ateu Nietzsche louco encarnando alternativamente as figuras míticas de Dionísio e Cristo expressando em bizarras cartas até afundar depois em um silêncio quase completo até a sua morte?

Caroline.