15/08/2009

Albert Camus

"Após cinco minutos de suspensão, durante os quais o meu advogado me disse que tudo corria bem, foi ouvido o Celeste, que era citado pela defesa. A defesa era eu. Celeste deitava, de tempos a tempos, olhares na minha direção e rodava o panamá nas mãos. Trazia o terno novo que punha aos domingos, quando ia comigo às corridas de cavalos. Mas julgo que não conseguira por o colarinho, pois apenas um botão de metal lhe conservava a camisa fechada. Perguntaram-lhe se eu era seu cliente e ele respondeu: - Sim, mas era também meu amigo - ; o que pensava de mim, e ele respondeu que eu era um homem; o que queria dizer com isso, e ele declarou que toda a gente sabia o que isso queria dizer; se notara que eu era taciturno, e ele reconheceu apenas que eu não falava por falar. O advogado de acusação perguntou-lhe se eu pagava regurlamente as minhas despesas. Celeste riu-se e declarou:- Isso era entre mim e ele. - Perguntaram-lhe ainda o que pensava do meu crime. Pôs então as duas mãos na barra e via-se que preparara qualquer coisa. Disse: - Para mim, foi uma desgraça. Toda a gente sabe o que é uma desgraça. Pois bem, na minha opinião, foi uma desgraça..."

(em O Estrangeiro)

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