25/12/2011

Infância

"Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé."


Segue acima o segundo poema do primeiro livro.

Nele, o autor narra sua Infância em Itabira, no seio da família.
A cena é bucólica, o tempo é vagaroso.

O irmão caçula vai deitado, sua mãe vai sentada como Penélope e seu pai, o mais veloz, vai a cavalo, enquanto ele se lê uma história infinita.

É o que nos revela a primeira estrofe.

Na segunda estrofe, o bom gostoso velho preto da senzala dos cafezais. Sob o zênite o sol a pino castigante.

Na estrofe seguinte, o inseto, figura recorrente, imagem dos pequenos aborrecimentos, das rusgas cotidianas. E um suspiro como que um buraco negro um poço sem fundo uma história sem fim.

Nas duas últimas estrofes, a fazenda maior que o mundo e o menino maior que o herói.

Aqui, na sua Infância na roça, as distâncias são enormes e o tempo é lentíssimo. Todos os movimentos são vagarosos como os braços da preguiça.

Nenhum comentário: