10/07/2007

joaquins e a saudade

Recebi hoje um e-mail de uma amiga. Continha duas cartas que dois amigos trocaram em tempos remotos. Eram homônimos. Abolicionistas e Republicanos. Um carioca favelado, outro pernambucano bem nascido. Muito amigos. Dois Joaquins. Um Nabuco, outro Maria Machado de Assis. As cartas falavam de saudades, já que o Bruxo ficara viúvo, solitário em sua morada no Cosme Velho. São lindamente simples. Abaixo o soneto que o viúvo escreveu à sua amada, antes de morrer, literalmente e literariamente, de saudades; justo ele, dos maiores realistas, tão romântico.


À CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

(Machado de Assis)

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