20/09/2007

Ainda

sobre relógios e espelhos:

Cassiano Ricardo.


Morte em câmara de gás

Tão certa a morte
que inútil marcar-lhe
uma hora exata.
Gosto da lei em ser
exata
não
apenas certa.

Nenhuma razão
pra tanto amor
ao relógio, ao
necrológio.
A data é que lhe põe
(felina) uma gota
de fel em cada
minuto.
E o mata com uma
lentidão de faca.

A justiça, olhos
fechados como os
da noite.
A câmara de gás
talvez
menos vil
se à noite.

Na cela em que o
condenado
dorme
sem data
olhos fechados
como os da justiça.


A física do susto

O espelho caiu a parede.
Caiu com ele o meu rosto.
Com o meu rosto a minha sede.
Com a minha sede eu desgosto.
O meu desgosto de olhar,
no espelho caído, o meu rosto.

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