12/11/2007

Amor

Um texto lindo sobre a distância.


"Na mensagem estava escrito: último aniversário da mamãe.

Um ano se passou e ainda lembro daquele dia como se fosse ontem. Àquele dia, um dos piores dias da minha vida.

Quatro de outubro de dois mil e seis, nove horas da manhã. Era aniversário da minhã mãe e como de costume fizemos um "café da manhã animado", cantáva-mos parabéns, quando o telefone tocou.

Minha tia aos berros (como sempre) e aos prantos ( como nunca) , mal conseguia explicar o que estava acontecendo. Saímos depressa, ainda deu tempo de encontar minha irmã pelo caminho, fomos todos juntos á casa dela.

Estava preocupada, porém não achava que a coisa era tão séria. Tudo naquele dia dera errado. Procuramos uma vaga para estacionar o carro, mas não havia uma sequer.

Deixamos nossos pais na porta do prédio e rodamos por mais de quinze minutos, quando então cruzamos com uma ambulância COMPLETAMENTE PERDIDA. Estacionamos o carro e fomos em direção ao prédio.

O elevador enguiçara. Subi pelas escadas, toquei a campainha e entrei depressa pela casa, mas ela não me esperou.

Quando adentrei o quarto havia apenas um corpo e um silêncio. Um silêncio ensurdecedor.
Jamais havia ouvido coisa igual. Não chorei. Procurei me lembrar de algumas práticas de primeiros socorros que havia aprendido na Faculdade de Enfermagem, mas nada me vinha á cabeça. Aquele silêncio não me deixava agir.

Parei.

Olhei por alguns segundos para ela, talvez um minuto, não sei. Procurei então os sinais vitais, mas todas as artérias estavam paradas.

Esperei.

Chegou então a ambulância com os " Profissionais de Saúde", estavam mais chocados do que eu. E sem nenhum toque deram o diagnóstico: Óbito.

Óbvio!

Tão óbvio que mal pude acreditar. Lembrei então do que ela sempre me dizia: Deixa de ser Frouxa menina!

Abri seu armário, procurei sua melhor roupa e a vesti. Foi difícil, nunca tinha feito isto antes. Em todo meu tempo de faculdade não havia ao menos visto alguém morto.

Quando acabei, beijei-a na testa, passei os dedos por entre seus cabelos brancos. Ela estava serena. Tão bonita!

Parecia dormir um sono profundo tendo um sonho bom.

Não sei se quando as pessoas morrem podem ver quem ficou. Mas parecia que ela estava me vendo de alguma maneira, e estava feliz.

Não feliz porque havia morrido. Ninguém deve ficar feliz quando morre!
Mas pela minha atitude, afinal, eu não fui frouxa.

Doeu.

Uma dor que nunca senti; um sentimento que me parecia eterno.
Lembrei de todas as conversas, broncas, carinho, atenção e sopas de legumes.

Chorei.

Mas hoje, um ano e vinte e um dias depois, não choro mais. Mas sinto.

Saudade.

(Carol Quintiliano Marcelino)

Um comentário:

Anônimo disse...

gracinha!
:D