26/11/2007

Ciclo Infinito

"porque o pequeno é também infinito"
"em cada coisa existe uma porção de cada coisa."
(Anaxágoras de Clazômena)

Segundo a crítica, a obra do argentino Jorge Luís Borges tem como tema recorrente o infinito, tanto espacial quanto temporal, e carrega a idéia de Deus como um círculo cujo centro está em toda parte, e a circunferência em lugar nenhum.

Diante disso, vamos a dois versos do penambucano, Manuel Bandeira:

"Eis-me centro finito
do círculo infinito"

O termo "holografia" vem do grego holos: todo, inteiro; e graphos: sinal, escrita. Num pequeno pedaço de um holograma (do grego: gramma: letra) existem informações sobre toda a imagem registrada a partir de um certo ângulo. Pense numa janela coberta por um pano preto com apenas um pequeno furo. Um espectador pode enxergar toda a paisagem do outro lado; sob um ângulo muito restrito, é verdade, mas ainda assim toda a paisagem que se vê quando a janela é descoberta.

Com isso, concluí-se que o infinito se mostra no infinitesimal. Que podemos ver Deus, num poeta, num verso desse poeta, ou em qualquer outra coisa ou pessoa? Panteísmo? Imanentismo? Rotulismo? Etiquetismo? - Não sei, pergunte aos poetas eruditos e aos narradores fantásticos, e não se acanhe se forem eles nordestinos ou argentinos.

Sorte de hoje: uma curva infinita é como uma reta. (Lembre-se que ao andar pelas ruas retas e dobrar suas esquinas, você está de fato caminhando sob a superfície curva da terra.)

E como disseram, ou pintaram, Nietzsche e Picasso: depende do ângulo, do ponto de vista, da interpretação, da perspectiva.

E o último adendo: dizer, como disse Manuel Bandeira: "círculo infinito", ou dizer, como disse JL Borges: "circunferência em lugar nenhum", é equivalente. E como disse JL Borges, Deus é o centro que está em toda parte. E como disse Manuel Bandeira, cada coisa é um centro. O que equivale a dizer que Deus é todos os centros que nós somos. E cada um de nós é só um dos infinitos centros que é Deus.

Algum louco, muito doido, que algum dia viesse ler esse blog, poderia fazer a crítica dos estruturalistas de que o todo não é a simples soma das partes, é mais que isso, pois as interações, as relações entre as partes, as levam além delas mesmas. Isso explicado assim por mim. E além disso, Godël provou matematicamente, e isso eu não faço idéia, que qualquer parte de um sistema é incapaz de comprender integralmente o sistema de que faz parte.

Então, partindo brilhantemente dos motes de Manuel Bandeira e Jorge Luís Borges, chego brilhantemente à minha brilhante conclusão metafísica: somos parte divina e, justamente por isso, não compreendemos toda a divindade.

Chega.

Um comentário:

Juliana Mano disse...

Comecei a ler J.L.Borges. Primeiro uma ou outra coisa do "Ficções" e agora estou de olho num livro dele que dei para o Gustavo, este só de palestras dadas por ele. Tudo em torna da poesia. :)