15/03/2009

Internamente

"The need for China to shift the mix of growth from exports to consumption has become more urgent."

Depois da bem sucedida impressão, traduzida para o português, do especial anual do semanário britânico The Economist, pelo semanário brasileiro Carta Capital, eis que as duas revistas semanais, de tiragem relativamente escassa, e seriedade jornalística absoluta e relativamente abundante, fincam parceria mais assídua, a ser inaugurada em breve.

E estudo recente impresso pela publicação inglesa, garante que, mesmo em meio a maior crise dos últimos 70 anos, haverá a China de garantir um crescimento de seu Produto Interno Bruto na ordem de 8% no ano de 2009.

Pegunte aos EUA, Alemanha e Japão se, por acaso, se lembram quando, um dia, cresceram a uma taxa próxima a essa.

A manutenção do crescimento robusto, que já dura 3 décadas, deve ser garantida pelas políticas fiscais e monetárias do governo chinês, traduzido por cortes nas taxas de juros e nos impostos, e aumentos nos gastos públicos, aumentando assim o déficit orçamentário, o que poderá assegurar aumento dos investimento sobretudo em infraestrutura, e sobretudo em infraestrutura de transporte e sobretudo em ferrovias, cujos investimentos na área deverão ser triplicados.

Mas o fato é que, grande parte do crescimento monstruoso que a China vem experimentando, se baseia no mercado externo, em exportações, por assim dizer.

E é fato que, com tal recessão, que até agora não se soube bem dimensionar, a demanda externa há de arrefecer.

Então, o verdadeiro desafio da China, frente a essa crise, será saber substituir o mercado externo (demanda dos outros países) pelo mercado interno(sua própria demanda).

Ou seja, é mais que hora de a China fomentar ainda mais o seu mercado, e há espaço de sobra pra isso, pois são evidentes as demandas reprimidas no país, que, apesar de já ter se tornado a terceira maior economia do mundo, ainda acumula um número portentoso de carentes e miseráveis.

Portanto, conseguindo, a China, diminuir o contigente de seus cidadãos que vivem em situação de pobreza e exterma pobreza, aumentando, consequentemente, a sua classe média, poderemos dizer, quando a crise acabar, que um gigante saiu de lá ainda maior.

Um desafio e tanto, mas não restam dúvidas, historicamente falando, que os chineses estão preparados para enfrentá-lo, e mais, derrotá-lo. E então veremos como as cartas estarão sendo dadas, num prazo de 5 a 10 anos.

Um adendo: é a China quem sustenta, em grande parte, o consumo interno dos EUA, sobretudo os gastos do governo americano, via aquisição de títulos da dívida norte-americana, porém, para incentivar seu próprio mercado, é bem provável que seja faça urgir a necessidade da China cessar, ou ao menos reduzir draticamente, o financiamento que fornecem ao mercado norte-americano, e esse será, sem dúvida, um desafio tremendo para o governo Obama.

Fica introduzida assim a dicotomia para os próximos 5 a 10 anos, período que cobre 1 ou 2 mandatos do recém-empossado presidente dos Eua.

Deixará a China de aquecer o mercado dos Eua para aquecer seu próprio mercado? E como os EUA enfrenatarão o cenário em caso de resposta positiva? Pois, desistindo os chineses de comprar títulos do tesouro norte-americano aos montes, como acontece até então, serão obrigados, os EUA, a aumentar sua taxa de juros, para atrair e manter investidores, inclusive os próprios chineses, e isso dificultará, sobremaneira, a recuperação da economia norte-americana.

O que acontecia, até então, era um jogo de trocas entre EUA e China. Os EUA importavam bilhões e bilhões em produtos chineses, e os chineses que, como já foi dito, baseavam e ainda baseam, seu crescimento, em larga medida, nas exportações, financiavam a dívida dos EUA em bilhões e bilhões, para que os EUA pudessem continuar consumindo e importando produtos chineses. E assim girava a roda.

O risco iminente, para os EUA, é de que os chineses cortem o fio, cessem de financiar o mercado norte-americano, e, assim sendo, no lugar de basear seu crescimento em exportações ao mercado dos yankes, passe a basear seu crescimento no aquecimento de seu mercado interno.

As cartas já estão dadas, as apostas já estão sendo feitas. E botaria meu dinheiro na ascensão do dragão e na queda dos falcões, e no fracasso da eleição do primeiro presidente negro nos EUA. Já vislumbrando todo o cenário de recrudescimento e retrocesso que daí surgiria (reascensçao e fortalecimento dos cons, tanto neos quanto ultras; racismo, xenofobia, família Bush, Sarah Palin, Jonathan Krhon...)

Fato é que o governo norte-americano, com Hilary Clinton nas cabeças, já está articulando para que os chineses contiuem a financiar a dívida dos EUA. Resta ver como isso vai ficar.

Pois o enorme déficit fiscal dos EUA em muito se dá pelo fato de importar muito da China, e isso acontecia, em grande parte, por conta do yuan "artificialmente desvalorizado".

E a luta do governo Bush, antes da crise, era pra que os chineses valorizassem seu câmbio, que o deixassem flutuar, na esperança de que isso diminuisse a gastança dos próprios norte-americanos. Os chineses sempre se recusaram.

Com a crise, os EUA devem e vão diminuir seu gastos, e isso inclui diminuir muito o nível de importação de produtos chineses.

Diante disso, nos perguntamos, por que cargas d´água, haveriam os chineses de continuar financiando o déficit norte-americano, se é bastante improvável que os norte-americanos continuem a financiar as exportações chinesas?

De acordo com a tão festejada racionalidade econômica, essa corda deve ser romper, e tudo indica que quando a roda gigante parar de rodar, a China estará "on top" e os EUA estarão "on bottom".

Resta saber se as costuras políticas conseguirão reverter tal quadro, e resta conferir até onde vão as peripécias diplomáticas norte-americanas no jogo internacional.

Não se despreza, é claro, a hipótese desse jogo tornar-se bem sujo, com um bom número de flertes e trapaças, e não duvidamos da capacidade de ambos os "players" em representar tais papeis.

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