10/10/2010

Ambivalentes



Para erigir sua muralha, ou para derribar a muralha alheia.

Todo instrumento é ambíguo: pode-se sentar na cadeira ou lançá-la nas costas do advesário, pode-se usar o trono para governar ou para tiranizar. Um machado de dois gumes pode cortar lenhas e pescoços.

O interessante é como, nas sociedades, as teconologias e as epistemologias dialogam, como nossas ciências e engenharias, ambas em sentido lato, recebem e fornecem umas às outras seus feedbacks.

Mas também é interessante notar que as linguagens funcionam como ferramentas, na medida em que servem como mídia para transformações. E as ferramentas funcionam como linguagens, na medida em que absorvem significados. Percebendo-se então que essa separação entre tecnologias e epistemologias é mera abstração conceitual.

"É impossível separar o humano de seu ambiente material, assim como dos signos e imagens por meio dos quais ele atribui sentido à vida e ao mundo. Da mesma forma, não podemos separar o mundo material - e menos ainda sua parte artificial - das ideias por meio das quais os objetivos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os inventam, produzem e utilizam. Acrescentamos, enfim, que as imagens, as palavras, as construções de linguagem entranham-se nas almas humanas, fornecem meios e razões de viver aos homens e suas instituições são recicladas por grupos organizados e instrumentalizados, como também por circuitos de comunicação e memórias artificiais."
(Cibercultura - Pierre Lévy)

Eu penso que, nos últimos dois séculos, desde a máquina a vapor e A Revolução Industrial até os computadores e A Revolução Digital, é a termodinâmica que tem estado no cerne tanto de nossas epistemologias, quanto de nossas tecnologias.

São as noções de energia, informação, realimentação, comunicação, metabolismo, entropia, elemento, sistema, interação e toda sua metodologia lógica, matemática e probabilística diante desses conceitos que tem moldado nossa sociedade e suas técnicas e culturas.

O próprio título do livro de Lévy, Cibercultura, é uma referência à Cibernética de Wiener, que, por sua vez, é o desenvolvimento informacional da termodinâmica, da cinética e da mecânica estatística.

E não só da física e da química inorgânca dos lasers, cristais e sistemas isolados, mas também e, talvez principalmente, da bioquímica, da química orgânica, da física da vida e dos sistemas abertos, que tem se erigido toda a nanotecnologia, biotecnologia, inteligência artificial, e seus conceitos de complexity, autopoiese, self organization, emergence, swarm intelligence, artifical life, cellular automata, e tantos outros que tem modificado nossa maneira de ler e escrever nosso mundo.

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